Brasília - A Polícia Federal vai chamar o ministro do Trabalho, Manoel Dias, para depor em inquérito que investiga desvio de verbas do ministério para o PDT. A decisão foi tomada após John Sievers Dias, ex-dirigente do diretório pedetista em Santa Catarina, confirmar em depoimento o teor de entrevista concedida em setembro ao jornal 'O Estado de S.Paulo'. O ex-dirigente disse que Manoel Dias montou um esquema para que funcionários do partido recebessem, sem trabalhar, salários de uma entidade que mantinha convênios com a pasta.
Sievers entregou cópias de extratos bancários aos investigadores. Segundo o ex-dirigente, duas transferências de R$ 1,3 mil cada foram feitas pela ADRVale - que mantinha convênios com o Ministério do Trabalho. Em outras duas ocasiões, o dinheiro lhe teria sido entregue pelo próprio Dias.
Procurado pela reportagem neste domingo, 26, o ex-dirigente do PDT em Santa Catarina confirmou as declarações à Polícia Federal: “Repeti lá o que havia dito antes”.
Questionado pela reportagem ontem, 25, Dias disse “jamais” ter feito acerto para que pedetistas recebessem pela agência. Ele não quis fazer mais comentários a respeito.
Foro
A PF já identificou outros dois supostos funcionários fantasmas da entidade, que pretende ouvir nas próximas semanas. Por ser ministro, Dias tem foro privilegiado e não é obrigado a prestar o depoimento no inquérito que corre em Itajaí. Ele só pode ser investigado com autorização do Supremo Tribunal Federal. A PF aposta, no entanto, que o ministro do Trabalho não vai se recusar a colaborar com as investigações.
A partir dos novos depoimentos, o delegado Annibal Gaya, que conduz o inquérito, decidirá se pede à Justiça Federal que remeta o caso ao STF para investigação específica sobre o ministro. Além da folha de fantasmas, o inquérito apura outras irregularidades na execução de convênios pela ADRVale.
O Trabalho firmou seis parcerias com a entidade, que era dirigida por pedetistas, repassando R$ 11,3 milhões. Todas são do período em que Carlos Lupi (PDT-RJ), aliado de Dias, comandava a pasta. Lupi deixou o cargo em 2011 em meio a suspeitas de corrupção no ministério, durante a “faxina” da presidente Dilma Rousseff. Dias foi nomeado no início do ano passado, numa costura para manter o partido na aliança de Dilma em sua campanha à reeleição, este ano.
Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), revelada pela reportagem, diz que a ADRVale repassou dinheiro a pelo menos 55 militantes do PDT sem comprovar se, de fato, eles prestaram serviços à entidade. Ao menos 17 são ou eram filiados ao partido em Santa Catarina. Entre eles, constam auxiliares de Dias no Trabalho.
A ADRVale nega irregularidades. De acordo com a entidade, os contratados para a execução dos convênios trabalharam, de fato, tendo ou não vínculo partidário.