Brasília – Os protestos que marcaram a realização da Copa das Confederações no Brasil, em junho do ano passado, deram sinais de que vão continuar no Mundial de 2014. A notícia de que mil manifestantes fecharam os dois sentidos de Avenida Paulista, em São Paulo, foi suficiente para causar transtorno ao paulistano, mas não preocupa a Federação Internacional de Futebol (Fifa), que descarta adiar ou cancelar a disputa no Brasil por conta do movimento Não Vai Ter Copa. Oficialmente, o clima de calmaria também reina no Palácio do Planalto. No entanto, embora negue que tenha marcado reunião de urgência com ministros envolvidos nos preparativos para o Mundial de futebol, o governo está atento aos movimentos sociais e tem sido cauteloso.
Organizada pelas redes sociais, o movimento contra a Copa foi reforçado em outras cidades brasileiras com o principal argumento de que os investimentos no torneio prejudicam os gastos com saúde e educação no Brasil. Cartazes como “Queremos hospitais e escolas no padrão Fifa” voltaram às ruas. Com o temor de que esse movimento ganhe grandes proporções, o governo ainda traça uma estratégia. A principal proposta é compartilhar a segurança do país entre o Ministério da Justiça e o da Defesa, como ocorreu na Jornada Mundial da Juventude e na Copa das Confederações.
Apesar da movimentação, a Fifa e o Comitê Organizador Local (COL) se mostram confiantes. Em nota, as entidades afirmaram que respeitam a liberdade de expressão e o direito de manifestar-se de forma pacífica e condenam todas as formas de violência. “Temos total confiança nas medidas de segurança implementadas pelas autoridades brasileiras para torcedores, delegações e imprensa”, destacou.
A opinião é a mesma defendida pela diretora de Comunicação e Relações Públicas da Fifa, Delia Fischer. “Estamos confiantes que o conceito aplicado no Brasil durante a Copa das Confederações vai garantir a segurança do público, de delegações e da mídia”, afirmou Fischer, em Zurique. O comunicado distribuído pela entidade à imprensa brasileira reflete a opinião do presidente Joseph Blatter quanto às manifestações no Brasil. Em entrevista polêmica e recente ao diário suíço 24 Heures, Blatter destacou não acreditar que os movimentos contrários à Copa possam paralisar o torneio. “O futebol está protegido. Acho que os brasileiros não atacam diretamente o esporte que, para eles, é uma religião”, ressaltou. Durante a Copa das Confederações, competição realizada sob protestos no país, Blatter deixou o Brasil rumo à Turquia para acompanhar a abertura do Mundial Sub-20.
Palavra de especialista
É preciso convencer
Alba Zaluar, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, especialista em antropologia urbana
Os protestos, muitas vezes, se tornam maiores devido aos seus desdobramentos. O que vimos em junho foi uma ação que cresceu em decorrência da reação da polícia. Ou seja, as pessoas passaram a protestar não por conta do primeiro problema, mas pelo desenrolar. E isso pode ocorrer novamente. É claro que as pessoas usam o que está acontecendo, como os protestos do fim de semana, para incluir o discurso da desigualdade e discriminação. O problema é que essas manifestações pedem melhorias nos serviços públicos, mas usam a violência porque acham que ser violento é ser revolucionário. Os fascistas, nazistas e outros de extrema direita também usam a violência. A marca da revolução é a capacidade de transformação. Para mudar a maneira de agir é preciso convencer as pessoas de que isso é necessário. Dizer que não vai ter Copa não tem sentido. A pergunta que fica é: depois de milhões gastos, o melhor é não ter Copa? Não tem como recuperar o dinheiro que foi gasto e não tem como voltar atrás. É preciso que os movimentos pensem em outra maneira de pressionar o governo para melhorar o país.
REUNIÃO COM EMPRESÁRIOS Chamados genericamente de rolezinhos, os encontros em shoppings de várias cidades do país, alguns feitos de forma pacífica e outros com registro de tumultos e protestos, levaram o governo federal a receber empresários do setor em uma reunião marcada para amanhã. Apesar da disposição em ouvir as queixas dos lojistas, dificilmente o Planalto se mobilizará para cuidar do problema. A avaliação é de que, como o encontro foi solicitado pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, cabe ao governo escutar o que eles têm a dizer, sem a obrigatoriedade de propor soluções ou engajar-se em algum plano previamente desenhado pelos varejistas. Enquanto isso, os centros comerciais monitoram as redes sociais para lidar com futuras manifestações.