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Estado de Minas

Barbosa diz durante palestra em Londres que prisões brasileiras são 'um inferno'

Ministro disse ainda que além das condições precárias as penitenciárias brasileiras "estão tomadas por facções criminosas"


postado em 29/01/2014 21:19 / atualizado em 29/01/2014 21:32

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, fez nesta quarta-feira, 29, duras críticas ao sistema penitenciário brasileiro, que definiu como "um inferno" sob o controle do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho. As declarações foram feitas em um discurso a estudantes e professores do tradicional King's College, de Londres, última etapa de sua turnê de oito dias por França e Inglaterra.

Barbosa foi chamado ao palco depois das intervenções do embaixador do Brasil em Londres, Roberto Jaguaribe, e do diretor do King's College, Rick Trainor, que compareceu à palestra, prestigiando o presidente do STF. Na plateia, mais de 300 pessoas, a maior parte estudantes brasileiros, lotando o auditório Edmund J. Safra. Em mais de uma hora e 15 minutos de intervenção, Barbosa discorreu sobre o sistema judiciário, sobre transparência e politização - temas que já havia abordado em Paris.

Mas foi ao responder as perguntas dos estudantes que o ministro foi mais enfático em suas críticas. Questionado sobre o estado da penitenciárias de Pedrinhas, no Maranhão, o presidente do STF confirmou que as instalações são "inadequadas para um ser humano". "O problema não é novo. Em todos os estados, e não apenas no Maranhão, prisões são o inferno", disse o magistrado.

"As prisões são um problema muito sério no Brasil. No ano passado eu fiz visitas a presídios. O que posso dizer é que horror é a palavra mais adequada para definir as prisões brasileiras", disse ele, criticando o desinteresse da classe política por investimentos no sistema prisional. "Políticos não ligam para esse problema, porque eles não têm retorno político, não ganham votos", afirmou, reiterando: "Se não dá dividendos políticos, eles não ligam".

Ainda segundo Barbosa, além das condições precárias as penitenciárias brasileiras "estão por facções criminosas". "PCC e Comando Vermelho. Estes são os caras que controlam os presídios", advertiu. "Esta é a realidade."

Por outro lado, o presidente do STF voltou a elogiar organismos que trouxeram mais transparência ao poder judiciário, como a TV Justiça e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). "Muitos diziam que o Judiciário brasileiro era uma caixa preta", lembrou, referindo-se ao período pré-CNJ. "Juízes não eram alvo de nenhum controle."

Em clima intimista, Barbosa fez brincadeiras e recebeu demonstrações de apoio da plateia ao criticar muito a situação dos presídios e ao afirmar que o preconceito racial é o maior problema do Brasil. "Se o país quiser ser respeitado como um player importante, é preciso fazer algo para incluir negros na sociedade", advertiu. "O Brasil nunca tratou a sério esse caso. A única medida séria nos últimos 10 anos foram as cotas, mas elas não resolvem o problema."

O ponto alto de sua conferência aconteceu quando uma estudante brasileira perguntou se Barbosa seria candidato à Presidência em 2014. Em um primeiro momento, o presidente do STF não respondeu a pergunta, atendo-se a outras questões. Seu silêncio provocou burburinho na plateia. A seguir, quando tomou a palavra de novo, disse que tem recebido pedidos nas ruas, mas sua resposta não mudou. "Nunca fui um político, nem nunca fui filiado a um partido, nem mesmo na universidade. Nunca tive militância política", disse ele, respondendo: "Logo, não. Eu realmente quero ser um homem livre de novo, ter vida privada e menos exposição do que tenho".

Em meio a uma agenda apertada ao longo do dia e alegando cansaço, Barbosa não falou aos jornalistas. Ao chegar e ao sair do King's College, foi questionado pela reportagem sobre se expedirá o mandado de prisão do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado pelo mensalão, e também sobre o crowdfunding (financiamento coletivo) realizado em favor do ex-presidente do PT José Genoino. O presidente do STF, porém, não quis responder a nenhuma das questões.

Barbosa iniciou na quarta-feira da semana passada, diz 22, uma agenda por Paris e Londres, que incluiu uma palestra no Conselho Constitucional da França e encontros com juristas franceses e britânicos. As atividades interromperam seu período de férias, marcado para 20 a 30 de janeiro. Por ter agenda oficial como presidente do STF, o ministro receberá diárias de R$ 14 mil.


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