Brasília – Sangue frio. Essa é a receita do sucesso traçada por especialistas para combater o “jogo rasteiro” nas eleições 2014, admitido pelo próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao pedir que os seus seguidores em uma rede social evitem as calúnias e provocações na internet. A estratégia está na cartilha de atuação na web montada por consultores e cientistas políticos à reportagem (veja quadro). A cinco meses da largada oficial da corrida à Presidência da República, os pré-candidatos – Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) – já montam as equipes que comandarão as ações on-line das campanhas.
“O candidato tem que agir mais com a cabeça do que com o fígado ao receber um ataque. Tem de evitar a primeira reação, que é revidar a ofensa”, instrui um estrategista que já atuou em grandes campanhas e preferiu não se identificar. Para ele, o eleitor está pouco interessado na arena virtual entre os dois candidatos e “ataques baixos” são mais prejudiciais para quem dispara do que para quem recebe.
Os candidatos, no entanto, não devem simplesmente ignorar calúnias. “Ignorar, nunca. Qualquer mentira pode virar um grande boato. E um grande boato pode derrubar uma campanha. Deve-se desmentir, com informações que sustentem a verdade”, diz o jornalista e publicitário Carlos Manhanelli, professor da Pontifícia Universidade de Salamanca, na Espanha.
Os analistas destacam, no entanto, que os candidatos não podem se esquecer de que a internet não é só espaço para ringue com adversários. “As manifestações trouxeram um peso maior à web. Ficou evidenciado que é espaço não só para o jogo político eleitoral, mas para a vida política em geral. As pessoas querem discutir mais do que a briga política na internet e os candidatos têm de trabalhar com isso”, diz Marcello Barra, sociólogo e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).
Barra e Manhanelli apontam a falta de interação como erro clássico dos políticos nas redes. “O primeiro instrumento surgido foram os sites, que, estáticos, só serviam para o candidato falar. Em seguida, veio o blog, que permitia comentários, mas muitas vezes moderados. Estamos na terceira onda: as redes sociais, espaço livre de manifestação de ideias. É necessário interagir.”
ATRASO Para Manhanelli, em termos de uso da internet, a presidente Dilma é a candidata mais atrasada em relação aos concorrentes. A petista reativou as redes sociais, porém não interage com os internautas. “Não faz sentido manter uma rede e não dar espaço para as pessoas conversarem. Apenas falar, nunca responder”, avalia o professor.
Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo Lula, será o responsável pela campanha on-line de Dilma. O secretário de Comunicação do PT nacional, José Américo, diz que esta semana houve reunião em Brasília para começar o planejamento na web. “Nosso objetivo na rede, hoje, é divulgar os pontos de vista do PT, balanços e realizações do governo, mas um trabalho importante é desmentir boato. Por exemplo, existe uma invenção de que existe o movimento anti-Copa no Brasil e que a Copa do Mundo vai dar errado.”
Já a equipe de Aécio na internet será comandada pelo presidente do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Xico Graziano. “A logística ainda está sendo preparada. Esperamos que a internet, um importante meio de fortalecer a democracia, seja bem usadas pelas campanhas”, diz o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG). Aécio já começou a ampliar seus espaços, com o lançamento do site Conversa com os brasileiros, onde propõe debates sobre demandas do país.
A campanha de Eduardo Campos na web deve ser reforçada pela ex-senadora Marina Silva, que, em 2010, já investiu fortemente nas redes para se comunicar com o eleitor. “Estamos repaginando sites, blogs e perfis em redes sociais. Este ano esse movimento toma um corpo maior. Todos os que não tinham muita familiaridade com a internet estão tendo que aprender e atualizar sempre seus perfis nas redes sociais”, relata o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG).