A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados se rebelou ontem contra a presidente Dilma Rousseff e decidiu não mais indicar os substitutos para os ministérios da Agricultura e do Turismo, os peemedebistas Antônio Andrade (MG) e Gastão Vieira (MA), que devem deixar o comando das pastas para disputar a eleição. A intenção do partido era aumentar sua influência no governo com a reforma ministerial, ganhando mais uma pasta. Um acordo para que o partido indicasse o líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira (CE), para o Ministério da Integração Nacional tentou ser costurado pelo Planalto, mas o partido recusou, pois o parlamentar é pré-candidato ao governo do Ceará. A indicação de Eunício resolveria o impasse com o PMDB e ainda seria um afago da presidente ao governador cearense, Cid Gomes (PROS), que tenta tirar o senador da disputa para indicar um nome de seu partido para a sucessão no estado. No lugar de Eunício, os peemedebistas queriam emplacar na pasta o senador Vital do Rêgo (PB).
Antônio Andrade disse, no entanto, que houve uma falha na comunicação e que o partido não será prejudicado. Segundo ele, caberá à bancada a sugestão dos nomes que vão ocupar os ministérios da Agricultura e do Turismo. Andrade disse ainda que não foi comunicado da reunião nem da decisão tomada pelos parlamentares. “Os cargos são de escolha da presidente e o partido não tem como interferir”, afirmou Andrade sobre mais um ministério. Ele garantiu que permanece na Agricultura até o prazo da desincompatibilização, em 5 de abril, ou pode sair antes se for desejo da presidente. “A bancada do PMDB não sofrerá nenhum prejuízo”, afirmou.
A ameaça de rebelião foi encampada pelo próprio presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Segundo ele, o partido vai continuar com o governo, mas não indicará nomes, deixando a presidente livre para compor da melhor maneira. Alves reclamou ainda que a discussão sobre cargos prejudica a imagem do partido. “As negociações não estão sendo bem conduzidas. As conversas provocaram distorções. Essa exposição de cargos para cá, cargos para lá, não foi bem costurada e está expondo o partido", disse.
CONVENIÊNCIA
A nota divulgada pela bancada após a reunião de cerca de três horas diz que o apoio ao governo está mantido, mas deixa clara a insatisfação ao “deixar a presidente à vontade para contemplar outros partidos em função das suas conveniências políticas e/ou eleitorais”.
O líder da bancada, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ironizou o clima da reunião, na saída, dizendo que teve que agir como “bombeiro” para evitar uma nota em tom mais acirrado. Cunha é visto pelo governo como um dos integrantes do PMDB mais críticos a Dilma.
O vice-líder do partido, Danilo Forte (CE), disse que, apesar de ter desistido dos cargos, a legenda não fará oposição ao governo no plenário da Câmara. “Não dá para enforcar o Michel (Temer)”, disse. “Mas não precisamos de ministérios que na prática nunca foram nossos”, completou.