A Prefeitura de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, prepara um inusitado ato simbólico para 31 de março, quando se completam 50 anos do golpe militar. Os quadros com retratos dos cinco presidentes militares – os generais Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo – serão retirados do salão nobre da prefeitura. “Resolvemos tomar a decisão de não reconhecer essas pessoas como presidentes eleitos”, afirma o prefeito Helvécio Reis (PT).
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Perguntado se não teme despertar uma polêmica, principalmente por um batalhão do Exército – o 11° de Infantaria de Montanha – estar sediado na cidade, o prefeito respondeu com uma pergunta: “Quem não gosta de polêmica?”. Helvécio garante que tem uma boa relação com os militares da cidade. “Não estamos brigando com a instituição. A instituição é feita por pessoas e em 1964 era feita por outras pessoas”, entende o prefeito.
Um dos idealizadores do ato simbólico é o assessor especial da prefeitura Sálvio Humberto Penna, que lutou contra a ditadura pela Ação Popular (AP), foi preso político e vice-presidente do Comitê Brasileiro da Anistia. “Vamos retirar os retratos de lá, pois eles não foram presidentes da República. Eles foram ditadores em um processo que o Brasil viveu”, entende Penna. A prefeitura pretende, segundo o assessor, convidar a viúva de João Goulart (1919-1976), Maria Thereza Goulart, para a cerimônia de retirada dos retratos. João Goulart foi o presidente deposto pelos militares, em 1964. Em dezembro do ano passado o corpo de Goulart foi exumado e enterrado novamente, dessa vez com honras de chefe de Estado.
NOVO NOME Outra ideia da prefeitura de São João del Rei é mudar o nome de uma das principais avenidas da cidade, a 31 de Março, que corta o bairro Colônia do Marçal e recebeu esse nome em homenagem ao golpe. Penna explica que o novo nome proposto pelo poder executivo será uma homenagem aos imigrantes italianos, que foram essenciais para a colonização da cidade. O nome provável deve ser Avenida dos Imigrantes. O prefeito Helvécio explica que essa decisão ainda não foi tomada, pois é preciso evitar problemas burocráticos para os moradores e comerciantes da via. “O que nós queremos é que a Avenida 31 de março mude de nome”, garante o prefeito.