Brasília – Pelo menos dois de cinco profissionais de Cuba que abandonaram o programa Mais Médicos estão em Miami, segundo a organização não governamental (ONG) Solidariedade sem Fronteiras (SSF). A ONG informou ao Estado de Minas que, além de Ortelio Jaime Guerra, cuja deserção foi divulgada na segunda-feira, o médico José Armando Corzo Gomez está nos Estados Unidos. A organização, que ajuda cubanos a deixarem missões pelo mundo, conta que há pelo menos outros quatro médicos da ilha que já pediram ajuda para sair do Brasil.
José Armando está entre os 89 nomes de uma lista de profissionais que não compareceram em seus postos de trabalho nos últimos dias, mas não comunicaram oficialmente ao Ministério da Saúde o desligamento do Mais Médicos. A relação foi divulgada ontem pela pasta, que deu prazo para que o grupo composto por 80 brasileiros, cinco cubanos e outros cinco estrangeiros se pronunciem antes de efetivar o desligamento deles. Corzo atuava em Itabira (MA), entrou no programa em novembro, mas deixou o local em janeiro. Já Ortelio trabalhava em Pariquera-Açu (SP) e deixou o Mais Médicos na última semana. Na madrugada de segunda-feira, o médico postou uma mensagem em uma rede social, na qual dizia que estava bem e havia chegado aos Estados Unidos.
Para chegarem ao solo norte-americano, os cubanos buscam um visto humanitário chamado Cuban Medical Professional Parole (CMPP), criado pelo governo George W. Bush, em 2006. Além de ajuda para conseguir o documento, o Solidaridade sem Fronteiras oferece outros auxílios. “Os ajudamos a conseguirem o visto, prestamos ajuda financeira e jurídica”, disse a secretária da organização, Claudete Fernandes. O presidente da entidade, Julio Cesar Alfonso, diz ter cerca de 4 mil cubanos de missões da Venezuela e Bolívia em Miami.
Apesar das deserções, em entrevista na terça-feira, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, considerou a quantidade de cubanos ausentes como insignificante. “Para nós, o número está muito baixo. É insignificante em um universo de 6 mil profissionais”, disse Chioro. Mais 22 cubanos deixaram o Mais Médicos e retornaram a Cuba. Hoje, há 6,6 mil médicos atuando pelo programa. Deles, 4,5 mil são da ilha. Outros 2.890 profissionais, entre eles, 2 mil cubanos, começarão a trabalhar em março.
“Enganada”
O primeiro caso de desistência divulgado foi o de Ramona Rodriguez, que fugiu de Pacajá (PA) em 1º de fevereiro, viajou para Brasília, onde foi acolhida por parlamentes do DEM. Ela diz ter se sentido enganada ao descobrir que outros médicos estrangeiros do programa ganhavam R$ 10 mil por mês, enquanto os cubanos recebem US$ 400 (cerca de R$ 965). Ontem, o desligamento de Ramona foi publicado no Diário Oficial e ela começou a trabalhar na Associação Médica Brasileira (AMB).
Também ontem, parlamentares do DEM fizeram uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU), em que solicitam uma investigação dos repasses do governo à Organização Panamericana da Saúde (OPAS) pelo programa Mais Médicos. A OPAS é responsável por intermediar o contrato entre Cuba e Brasil. Os termos do pagamento dos cubanos constam em contrato da organização com a ilha de Castro, que nunca foi tornado público.