Brasília – Preocupado com a repercussão negativa do projeto de lei antiterrorismo, que tramita no Congresso, o PT se armou nessa quarta-feira para blindar o Palácio do Planalto de vinculações com a defesa do texto.
A ligação entre o governo e o projeto do senador e aliado Romero Jucá (PMDB-RR), que preocupa o Planalto, foi criada pelo próprio PT. Na segunda-feira, quando foi anunciada a morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, atingido por rojão no Rio de Janeiro, senadores do partido se apressaram em cobrar a aprovação da proposta do peemedebista. Jorge Viana (PT-AC) subiu à tribuna para dizer que, caso terrorismo já estivesse no Código Penal brasileiro, “esses bandidos que mataram o jornalista poderiam ser enquadrados”.
A mudança de discurso começou na terça-feira depois de conversa entre a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e líderes da base. No mesmo dia, à tarde, senadores repetiram várias vezes que o projeto sobre terrorismo nada tinha a ver com as manifestações. Ontem, o PT resolver oficializar sua crítica, por meio de nota assinada pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão. “Uma lei vaga nessa caracterização penal atenta contra os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição e poderia servir à criminalização de movimentos sociais, o que seria um inaceitável retrocesso democrático”, registra o documento.
A despeito das críticas à atual redação, o governo federal tem pressa na aprovação de um projeto sobre o tema.
BRECHAS Especialistas consideram que manifestantes realmente podem ser considerados terroristas pelo texto de Jucá. “Essa lei permitirá interpretações equivocadas sobre o conceito de terrorismo. Vai permitir que pessoas que jamais praticaram terrorismo sejam punidas como penas altíssimas. Parece-me mais uma lei para atender a Fifa do que a uma demanda interna”, avaliou Cléber Lopes de Oliveira, advogado criminalista e professor de direito processual penal do UniCeub.
O texto do peemedebista diz que terrorismo é “provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa”. Depois das críticas externas, senadores começaram a apresentar emendas à matéria. Pedro Taques (PDT-MT), relator da reforma do Código Penal, que ainda tramita no Congresso, apresentou quatro. Uma delas acrescenta ao projeto que “não constitui crime de terrorismo a conduta individual ou coletiva de pessoas movidas por propósitos sociais ou reivindicatórios”.
Para Jucá, a definição de Taques está errada. “Tem gente que diz ‘não é terrorismo ação de movimento social’. Mas se o movimento social explodir avião é terrorismo”, argumentou. Na carona da polêmica sobre o projeto, a Comissão de Direitos Humanos do Senado enviou requerimento ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), pedindo que o texto também passe pelo crivo do colegiado.
Romero Jucá (PMDB-RR) senador e autor do PL 499/2013, que tipifica o terrorismo como crime
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), comparou, indiretamente, o texto do senhor ao AI-5, editado na ditadura militar. A intenção é enquadrar os movimentos sociais?
Não quero fazer AI-5.
Juristas dizem que o texto do senhor é vago ao definir terrorismo. Aceita mudanças no texto?
Estamos abertos a sugestões de todos, inclusive juristas. Não há nenhuma intenção de criminalizar manifestações populares. O Código Penal (que também trata de terrorismo), do senador Pedro Taques (PDT-MT), está muito mais vago do que o meu projeto. O texto dele enquadra greve e uma série de coisas (como terrorismo) que o meu projeto não enquadra. Agora, não é fácil definir o que é terrorismo. Tem gente que diz “não é terrorismo ação de movimento social”. Mas se o movimento social explodir avião é terrorismo.
Por que o PT mudou de ideia em relação ao seu projeto (apoiava, mas agora é contra)?
Por medo. Ao surgir a versão de que ele criminalizaria movimento social, ficou com medo de parecer que o governo está incentivando. Esse projeto foi aprovado por unanimidade na comissão e agora vai ao plenário. Agora é que o debate ocorre. Esse projeto não é pronto. É texto-base. Agora, é preciso votar com rapidez. Temos hoje uma lacuna na legislação brasileira. Amanhã, se tiver ataque terrorista, o terrorista, com um quinto da pena, terá progressão para liberdade. O Brasil vai virar o paraíso do terrorismo. Então, estamos fazendo texto duro para afastar daqui qualquer intenção de movimento terrorista a nível nacional..