Jornal Estado de Minas

Projeto pode acabar com apadrinhamentos para cargos de conselheiros do TCE e do TCU

Se for aprovada PEC em tramitação no Congresso, vagas serão preenchidas por meio de critérios técnicos

Juliana Cipriani
Como em outros tribunais de Contas, parte das vagas do TCE mineiro é ocupada por ex-deputados - Foto: EULER JÚNIOR/EM/D.A PRESS - 31/10/05

As indicações políticas para compor os tribunais de contas estaduais e o da União, que julgam as contas de prefeitos, governadores e presidentes da República, podem acabar. Isso se for aprovada uma proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada em outubro do ano passado que estabelece critérios técnicos para ingressar na carreira de conselheiro. O texto modifica o artigo que determina de quem são as vagas dos responsáveis por votar os processos de contas dos Executivos.

Pela regra atual, os tribunais estaduais são compostos por sete conselheiros e cabe às respectivas constituições definir os critérios de nomeação. Em Minas, são três vagas do governador – uma de livre escolha, uma entre membros do Ministério Público junto ao TCE e outra entre auditores do tribunal – e quatro definidas pelos votos dos deputados estaduais. Na prática, só duas vagas levam em conta a carreira, já que a de livre critério do governador é indicação política e as da Assembleia são ocupadas somente por ex-deputados estaduais.

Pela PEC 329/13, de autoria do deputado Francisco Praciano (PT-AM), a escolha dos conselheiros passa a respeitar a seguinte ordem: um eleito pela classe entre os auditores concursados do tribunal, um eleito pela classe entre os membros vitalícios do Ministério Público de Contas e outros quatro eleitos entre os auditores substitutos de conselhos vitalícios. Todos estes são servidores de carreira. O texto prevê ainda uma vaga para indicados pelos conselhos profissionais de direito, administração, contabilidade e economia, alternadamente.
Estes teriam mandato de quatro anos e, portanto, uma vaga rotativa.

De acordo com a PEC, os conselheiros também ficariam sujeitos a fiscalização do Conselho Nacional de Justiça e os procuradores dos TCEs ao Conselho Nacional do Ministério Público. O mesmo vale para o TCU. Na justificativa, Praciano alega que cerca de 25% dos membros dos tribunais estaduais não têm formação adequada à função (nas áreas jurídica, contábil, econômica, financeira ou de administração pública). O parlamentar também cita estatísticas de conselheiros investigados por crimes de improbidade e diz que a manutenção das vagas vinculadas vem ao contrário do que deseja a sociedade. “É necessário afastar dessas cortes a influência político-partidária.”

Votação

Relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) informou, por meio de sua assessoria, que aguarda a votação do projeto do marco civil da internet, do qual também emitirá parecer, para entregar seu relatório. Isso deve ocorrer nas próximas semanas. Se aprovada, a PEC ainda passará por comissão especial antes de seguir para votação em plenário.

Um dos maiores defensores da realização de concurso público para escolha de conselheiro em Minas Gerais, o doutor em contabilidade e integrante do Conselho Regional de Contabilidade mineiro, Alexandre Bossi Queiroz, comemorou a apresentação da PEC, mas se mostrou pessimista sobre sua aprovação. “Sou muito cético, desde a Constituição de 1988 houve várias tentativas, mas nada muda. Acho que isso só ocorrerá se o Executivo tiver vontade política para mudar o critério de indicação”, avalia. .