Brasília – Em resposta ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que criticou as vaquinhas feitas pelos petistas para arrecadar o dinheiro das multas dos condenados do mensalão, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enviou, do Irã, uma carta endereçada ao ministro, afirmando que ele fez críticas sem apresentar provas. Ele disse ainda que, como juiz da causa, caberia a ele “maior reserva” sobre o assunto. Suplicy está em Teerã em missão oficial do Senado.
“Quando Vossa Excelência questiona, sem qualquer prova material, a regularidade das doações a José Genoino, Delúbio Soares, José Dirceu e João Paulo Cunha, passa-me o sentimento de que não julgou com base exclusivamente na razão. Isso não é bom para o papel que o Supremo Tribunal Federal desempenha na organização dos poderes da República”, afirmou o senador, na carta ao ministro.
Na sexta-feira, Mendes já havia encaminhado uma carta a Suplicy dizendo que as vaquinhas do PT “não passam de uma tentativa de desqualificar a decisão condenatória”. “Repito: a falta de transparência na arrecadação desses valores torna ainda mais questionável procedimento que, mediando o pagamento de multa punitiva fixada em sentença de processo criminal, em última análise, sabota e ridiculariza o cumprimento da pena pelo próprio apenado, fazendo aumentar a sensação de impunidade, que tanto prejudica a paz social no país”, criticou o ministro. Na carta a Suplicy, o ministro sugeriu ainda que os petistas façam uma vaquinha para devolver “pelo menos parte dos R$ 100 milhões subtraídos dos cofres públicos” pelo esquema do mensalão.
Em ofício anterior, Suplicy havia cobrado explicações de Gilmar Mendes sobre as declarações do ministro. “Até onde tenho conhecimento, as famílias dos quatro membros do Partido dos Trabalhadores é que tiveram a iniciativa de fazer a campanha para arrecadar fundos e pagar as multas condenatórias. Não vejo ilegitimidade ou ilegalidade nessa conduta”, escreveu o senador na carta de ontem. Até sexta-feira, a campanha pela internet para pagar a multa de José Dirceu já tinha contabilizado, em três dias, R$ 301 mil em doações, conforme boletim divulgado ontem pelo site, quase um terço dos R$ 971 mil impostos na condenação.
CANDIDATO? A revista Veja desta semana afirma que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, admitiu a um interlocutor não identificado na reportagem que pretende deixar o órgão tão logo termine o processo do mensalão. Ele teria dito estar cansado e com dificuldades de continuar a trabalhar por causa das dores crônicas nas costas e não descarta eventual candidatura daqui a três ou quatro anos.
Em nota divulgada na tarde de ontem, a assessoria de Barbosa nega as informações. “O ministro já manifestou diversas vezes o desejo de não permanecer no Supremo até os 70 anos, quando teria que se aposentar compulsoriamente. No entanto, não existe nenhuma definição com relação ao momento da saída dele”, diz o texto. Sobre uma eventual candidatura, a nota afirma que “o ministro reserva o direito de tomar as decisões que julgar mais adequadas na ocasião oportuna”.