Por quase 10 anos à espera da emissão do título de propriedade, o Quilombo de Luízes – que já teve o reconhecimento histórico, econômico e sociocultural pela Fundação Cultural Palmares – assiste ao cerco imobiliário às suas terras: invasão de particulares, de construtoras que levantaram prédios nas áreas remanescentes da Fazenda Piteiras, que data de 1895. Ocupava 18 mil metros quadrados. No Bairro Grajaú, espremidos em cerca de 4 mil metros quadrados do antigo território, estão os descendentes da escrava Anna Apolinária. Vivem na comunidade cerca de 70 pessoas. Outras 200 estão espalhadas pela cidade.
A titulação do quilombo de Luízes, iniciada em 2005, se arrasta. Em 2012, foi publicado um segundo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTDI) com a exclusão de 10 imóveis da primeira área, identificada em 2005. Por causa da demora, a Procuradoria da República em Minas propôs ações judiciais responsabilizando o Incra para a imediata publicação da portaria que reconhece e declara os limites dos territórios das duas comunidades.
MANGUEIRAS Igual providência para forçar o Incra à publicação da portaria delimitando o território o Ministério Público Federal tomou em relação ao Quilombo de Mangueiras. No limite de Belo Horizonte com Santa Luzia, a comunidade teve a titulação iniciada em 2005 e o laudo antropológico de reconhecimento publicado em 2009. O presidente da Associação Quilombola da Comunidade de Mangueiras, Maurício Moreira dos Santos, de 56, luta para recuperar tradições, erradicar o analfabetismo e arrancar da extrema pobreza as 22 famílias que vivem em pequenas casas numa área de cerca de 17 mil metros quadrados.
A história de Mangueiras se inicia na segunda metade do século 19 quando os lavradores negros Cassiano e Vicência utilizavam as terras do Ribeirão da Izidora para seu sustento. Há mais de 120 anos, seis gerações assistiram à expansão de Belo Horizonte, a explosão do vetor Norte e dos bairros do entorno, a pouco mais de cinco quilômetros da Cidade Administrativa. De rural o quilombo passou a urbano em intensa competição espacial com vários empreendimentos, como a duplicação da MG 20, que expropriou parte do território da comunidade, entre outros que se programam para se instalar nas terras remanescentes do quilombo.