Brasília – A quatro meses da Copa do Mundo, com o governo dependendo do Congresso para aprovar leis mais duras contra protestos violentos e atraso na construção dos Centros Integrados de Comando e Controle (CICCs), conforme mostrou o Estado de Minas na edição desse domingo, a segurança no torneio tem outra pendência: a insatisfação de delegados da Polícia Federal (PF). Eles se reunirão em abril, em Vila Velha (ES), para discutir o assunto. Um grupo conseguiu incluir entre os temas do encontro a proposição de que a PF não atue em grandes eventos, alegando desvio da função investigativa. A falta de uma divisão clara de tarefas com o Exército é outro ponto que acirra ainda mais a disputa interna travada pelos dois órgãos por mais verbas.
Para piorar o quadro, permanece sem solução a briga entre PF e Exército, travada desde os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, realizados em 2007, sobre o comando da segurança em grandes eventos no Brasil. Desde que a presidente Dilma Rousseff sinalizou, ainda em 2012, que colocaria mais poder e orçamento nas mãos do Ministério da Defesa, diante da greve realizada à época pela PF, a briga se acirrou – embora, oficialmente, o discurso seja de trabalho em sintonia. “Essa queda de braço continua existindo, porque grandes eventos são vistos pelas instituições como uma grande oportunidade para se modernizar. A verdade é que ficam brigando, até criticando a atuação do outro, para conseguir mais recursos”, diz Leôncio.
Recursos
Na PF, há um sentimento de injustiça, a cada repasse destinado pelo governo ao Ministério da Defesa no bojo da segurança nos grandes eventos – sobretudo por meio dos projetos de defesa cibernética e combate ao terrorismo. “As Forças Armadas vêm recebendo mais recursos para ficar de stand by. Quer dizer, só se acontecer um problema é que o Exército entra. E quando entra, ainda há a falta de esclarecimento sobre onde termina defesa nacional e começa segurança pública”, diz Leôncio. A tradição de comando das Forças Armadas é algo que incomoda os policiais federais. Nos bastidores, integrantes da PF comentam que, dentro de salas de controle na Copa das Confederações, o clima era carregado. O ponto de tensão, quando havia atuação prática conjunta com militares, era a questão do comando.
Depois de uma atuação elogiada pela presidente Dilma Rousseff na Rio+20, em meados de 2012, o Exército ganhou pontos com o Planalto. Com um calendário de grandes eventos pela frente, que só terminam com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a briga com a PF se tornou mais intensa. Para ter uma ideia, em menos de três anos de existência, a Secretaria de Segurança de Grandes Eventos (Sesge) tem o terceiro chefe, o delegado da PF Andrei Augusto Passos Rodrigues. Ele assumiu a Sesge, que é vinculada ao Ministério da Justiça, depois que o antecessor, delegado Valdinho Jacinto Caetano, renunciou ao comando depois de uma crise com o Ministério da Defesa. O perfil conciliador de Rodrigues pesou na escolha da presidente, além do fato de o policial ter feito a segurança de Dilma na campanha de 2010.
Sétimo dia
O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, defendeu ontem o direito de manifestações dos cidadãos sem violência na celebração da missa de sétimo dia em homenagem ao cinegrafista Santiago Andrade. O funcionário da Band morreu na última segunda-feira depois de ser atingido por um rojão na cabeça durante protesto contra o aumento da passagem de ônibus municipais, no Centro do Rio. Cerca de 50 pessoas participaram da missa na Catedral.