O governo sabe disso e aposta todas as fichas no ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, numa tentativa de estreitar o diálogo com os movimentos sociais e conter os ânimos em ano eleitoral. O ministro foi requisitado pelo PT para participar do núcleo de articulação da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A tendência é de que ele permaneça no governo para ser o homem da contenção. A informação oficial é de que o governo federal redistribuiu todas as demandas e atesta que está monitorando o desempenho de cada pasta.
Um dos integrantes do Movimento Passe Livre no Distrito Federal, Paique Duque, que se reuniu com Dilma em junho do ano passado, diz que não houve avanço. “No ano passado, fomos convidados para centenas de reuniões em todo o país, mas esse diálogo não resultou em medidas concretas para a modificação da pauta central.
Ele informou que a desoneração das empresas de ônibus para barateamento das passagens não é bandeira defendida pelo movimento. “Deixamos isso muito claro durante o encontro com a presidente. Essas são medidas que o governo já defendia antes das manifestações. Você só aumenta o lucro do empresário. Não há melhoria do serviço e ainda retira as poucas responsabilidades sociais que eles têm”, ressalta.
O secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Zenildo Pereira Xavier, argumenta na mesma linha. “Não vamos negar que houve a intenção do diálogo, mas ficou só no discurso. O governo precisa avançar de verdade. Ele se comprometeu com diversos segmentos. Não houve mudança. Há uma lentidão”, declarou. Na opinião de Zenildo, o agronegócio continua influenciando as decisões do Planalto.
Há 10 dias, 15 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram uma marcha pela Esplanada. Houve pancadaria na frente do Planalto. Do carro de som, os coordenadores classificaram a presidente como “fantoche dos ruralistas” e pediam a todo instante uma “grande vaia para aquela que prometeu assentar nossas famílias”. Um dia após o tumulto, Dilma se rendeu. Recebeu uma comitiva do MST. Ganhou uma carta de reivindicações com 10 pontos, ouviu críticas e, mais uma vez, comprometeu-se a analisar todas as demandas.
Urucum
No fim do ano passado, 400 índios invadiram a área externa do Palácio do Planalto. Também pressionavam a presidente e chegaram a chamá-la de “assassina”. Eles insistiam em marcar uma audiência com Dilma. A pressão foi grande.
Marcos Terena, integrante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, alega que não há interlocução do governo federal com os povos indígenas. “Falta estabelecer um diálogo. O governo atua por impulso. Agora, em 2014, é preciso criar um canal de negociação nas esferas governamentais. Quem falava pelos índios era a Funai, mas o órgão foi esvaziado politicamente e administrativamente. Não tem poder de ação”, relata. Ele salienta que índio no Brasil virou caso de polícia. “A gente precisa abrir esse canal com a candidata Dilma Rousseff. O sistema de governo não pode tratar a agenda indígena como uma solenidade. Aquilo ali (reunião de povos indígenas com Dilma em julho do ano passado) foi só uma solenidade. Nada mais”, declarou.
A Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou que “o diálogo do governo federal com os movimentos sociais é permanente e tem se mantido aberto desde o início da gestão de Dilma”. Ainda de acordo com a resposta oficial do governo, “em cada uma das reuniões, a presidente deu encaminhamentos precisos, remetidos a diferentes ministérios. Foram centenas de demandas apresentadas pelos movimentos sociais”. A Secretaria-Geral da Presidência da República garante que todas as demandas estão em diferentes níveis de implementação ou negociação. O governo alega que “existem ainda mesas de diálogo com calendário de reuniões e agenda de trabalho montada”. Informa como exemplo a mesa dos movimentos de moradia e dos atingidos por barragens. Mesmo assim, alega o Planalto, Dilma continua recebendo pessoalmente líderes de movimentos sociais..