O comparecimento de Dilma à recepção foi um segredo muito bem guardado pelo Palácio do Planalto. Assessores não confirmaram, ao longo do dia, que a presidente fosse à festa, adiantando que à noite provavelmente ela teria uma “agenda privada”. Aparentemente, um dos poucos que sabiam com antecipação que a presidente compareceria era o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, com quem Dilma almoçara, após o Consistório Cardinalício na Basílica de São Pedro, no qual 19 sacerdotes, entre eles D. Orani, foram declarados cardeais.
Na festa com cerca de 200 convidados - entre eles a ex-ministra do STF Ellen Gracie, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, os deputados federais Alessandro Molon (PT-RJ) e Hugo Leal (PSC-RJ), o secretário da Casa Civil da prefeitura do Rio, Pedro Paulo, e cardeais brasileiros-, a presidente circulou pelos grupos, sempre sorrindo com simpatia. Conversou com Pezão, que chamou para acompanhá-la quando foi cumprimentar D. Orani, declarou-se “muito feliz” com a elevação do arcebispo do Rio de Janeiro a cardeal e se mostrou sempre bem humorada. Quando o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, deputado Paulo Melo (PMDB), lhe apresentou a mulher, Franciane Motta (PMDB), Dilma também brincou com ele. “Você agora está com juízo, né?”, provocou a presidente.
Houve discursos do embaixador Souza Pinto saudando o cardeal; do próprio D. Orani, agradecendo a homenagem; de Pezão. Às 20h50, Dilma foi embora para jantar com os ministros que a acompanharam na viagem. A descontração da presidente na festa foi bem diferente da sua postura na entrevista coletiva da véspera, após o encontro privado com o papa Francisco no Vaticano. Na ocasião, Dilma chamou pelo menos três vezes repórteres de “meu querido” ou “minha querida”, sinal que emite quando uma pergunta a irrita.
Hospedada no Palácio Pamphilij, sede da Embaixada do Brasil na Itália, na Piazza Navona, na área central da capital italiana, a presidente usou uma porta traseira, que dá acesso a uma rua estreita típica do centro histórico romano, para sair de carro da representação diplomática sem ser notada pelas equipes de reportagem que davam plantão de olho apenas na entrada principal. Enquanto assessores diziam aos jornalistas que a presidente não tinha compromisso, Dilma ia para o Parco Della Musica, onde assistiu, das 18h às 20 h, a Missa em Si Menor, de Johann Sebastian Bach, executada pela Orquestra Nacional da Accademia de Santa Cecília. Depois, foi para a homenagem a D. Orani.
Há cerca de um mês, uma “parada técnica” não anunciada do avião presidencial em Lisboa, em uma viagem entre a Suíça e Cuba, gerou polêmica, principalmente depois que foi divulgado que a presidente jantou no restaurante Eleven e se hospedou no Hotel Ritz, sem que essa agenda fosse divulgada previamente.