Brasília – Mesmo com todo o esforço desprendido pelo governo federal para debelar a crise na base aliada, com a promessa de que 12 ministros vão à Câmara após o carnaval estreitar o diálogo e acelerar a aplicação dos recursos referentes às emendas parlamentares do ano passado, a criação do “blocão” dos descontentes, liderado pelo PMDB, está selada. O grupo, formado por sete partidos governistas, já mostrou o que é capaz de fazer para pressionar a presidente Dilma Rousseff. Nessa terça-feira, com a ajuda decisiva dos insatisfeitos, a Câmara colocou em votação como primeiro item da pauta requerimento da oposição para criar uma comissão externa para investigar suspeitas de pagamento de propinas por parte da empresa holandesa SBM Offshore a funcionários da Petrobras.
A votação foi iniciada e o requerimento chegou a ser aprovado por larga maioria, mas o PT pediu verificação nominal. Pressionado após seguidas obstruções, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), encerrou a sessão alegando que o horário havia sido extrapolado. A votação será retomada hoje. Logo após a reunião de líderes, que decidiu colocar como prioridade a apreciação da criação do grupo para realizar a investigação fora do Brasil, o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reagiu aos rebelados em tom de ameaça. “Vou relatar ao governo até para ver se vai ser mantido o cronograma (de visitas de ministros à Câmara), porque, se combinamos uma coisa e depois a situação muda, aí aquilo que foi combinado pode mudar também”, ameaçou.
O petista demonstrou irritação com a atitude do blocão. “Eu não perguntei para cada líder da base que apoiou qual foi a sua motivação.
O grupo formado pelo PMDB, PP, PROS, PDT, PTB, Solidariedade e PR, todos da base aliada, conta com 256 parlamentares. Após almoço na casa do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), a orientação foi de teriam uma pauta própria e não ficariam a reboque do Executivo. “Estamos fazendo isso com o objetivo de nos fortalecer no Parlamento. O que fazemos ou fizemos é uma aliança informal para procedimentos comuns”, justificou Cunha.
O líder do PROS, Givaldo Carimbão (AL), argumentou na mesma linha. “Nós vamos fazer nossa pauta, enquanto parlamento, para que se votem as matérias do Executivo mas também se votem as do Legislativo”. Ele reclamou da falta de diálogo com o governo federal. “Temos parlamentares que estão aqui há 12 anos e que nunca conseguiram votar um projeto. É só Executivo, Executivo, Executivo. Essa sistemática tem que mudar”, afirmou.
FÔLEGO Além da quebra de acordo na liberação das emendas parlamentares de 2013, o grupo dos insatisfeitos reclama do trancamento da pauta da Casa porque o governo federal carimbou projetos de seu interesse com o regime de urgência constitucional. O blocão ganhou fôlego em razão da demora para decidir a reforma ministerial e as alianças estaduais.
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, esteve na Câmara reunida com líderes partidários na tentativa de apagar o incêndio. Não adiantou. Chinaglia explicou qual seria o objetivo da visita dos ministros à Câmara.