Os peritos usaram um radar de solo e fizeram o escaneamento de uma área de cerca de quatro metros quadrados onde escavaram até dois metros de profundidade. Segundo Lerner, a busca por novos vestígios continuará em uma extensão de 100 metros quadrados prevista em um croqui da área confeccionado em 1980 e a partir dos vários testemunhos sobre o caso. "Documentos inéditos também estão contribuindo", afirmou Lerner, sem detalhar quais são. Iniciadas na quarta-feira, 26, as buscas em Rio Verde têm o objetivo de localizar restos mortais ou objetos pessoais de Márcio e Maria Augusta, estudantes guerrilheiros que militavam no Movimento de Libertação Popular (Molipo) e que foram metralhados em 1973, em Rio Verde. Eles viviam clandestinamente, disfarçados com os nomes de Neusa e Raimundo, em uma fazenda chamada Rio Doce, palco das buscas. Os corpos nunca foram encontrados.
Além dos testemunhos e documentos, já houve coleta de botões, fragmentos de ossos e dentes em uma cova clandestina, atribuídos às vítimas, além de cápsulas de balas.
Os corpos de Márcio e Maria Augusta foram vistos por moradores da fazenda no dia 17 de maio de 1973, após rajadas de metralhadoras terem atingido o barraco onde viviam, por volta das 3 horas da madrugada, conforme os relatos que existem nos autos do inquérito do Ministério Público Federal (MPF), que também participa das buscas, junto com a Polícia Federal.
Quem eram
Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck pertenciam ao chamado Grupo dos 28, formado por jovens integrantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento de Libertação Popular (Molipo), envolvido em ações armadas audaciosas. A mais notória foi o sequestro de um Boeing 707 da Varig em Buenos Aires que foi desviado para o Chile e depois voou para Cuba em 1969. Eram ligados ao guerrilheiro Carlos Marighela, assassinado em 1963. Os dois estudaram táticas de guerrilha em Cuba e retornaram em 1971 para o Brasil, vivendo clandestinamente.
Crime permanente
Para o MPF, desde o sumiço dos restos mortais das vítimas o crime se tornou permanente, razão pela qual os procuradores da República que atuam no caso afastam a hipótese de prescrição e insistem na inaplicabilidade da Lei da Anistia. Eles sustentam que, se os corpos nunca foram encontrados, o crime de ocultação permanece, então, o prazo para a prescrição nem começou a contar, o que valeria também para suspeitos de participação nas mortes e ocultação de cadáver, mesmo se tiverem mais de 70 anos de idade..