Montevidéu- Há quase seis anos, autoridades brasileiras têm indícios de que parte do suposto esquema de corrupção da Alstom e da Siemens passava por empresas uruguaias, mas nunca fizeram nenhum pedido de cooperação ao país vizinho.
Tratava-se de dois contratos idênticos feitos pela Siemens com as empresas uruguaias Gantown e Leraway, bem como de cópia da carta anônima enviada ao ombudsman da Siemens na Alemanha - que, como depois se revelou, era de autoria de Everton Rheinheimer, principal delator de corrupção do cartel de trens.
A carta foi dirigida a diversos promotores e procuradores estaduais e federais. Nela, Rheinheimer dizia que, além das empresas brasileiras Procint e Constech, os consultores Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira - este já falecido - usavam as uruguaias Gantown e a Leraway para pagar propina no Brasil.
A reportagem consultou autoridades responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro no Uruguai. Todas afirmaram que a maior parte da cooperação internacional do País é feita com Argentina e Brasil. Todas estranharam que o Brasil nunca tenha pedido cooperação.
“Travas legais como segredos bancários são superadas facilmente com um pedido bem fundamentado. Judicialmente se levanta tudo rapidamente, algumas coisas em questões de horas”, afirmou o secretário nacional Antilavagem de Dinheiro do Uruguai, Carlos Díaz.
Questionado, o procurador Rodrigo de Grandis disse que não poderia se manifestar por não ter tido acesso aos autos.
A procuradora Karen Kahn, que esteve à frente do inquérito do caso Siemens até que ele foi enviado em dezembro ao Supremo Tribunal Federal (onde foi desmembrado e retornou ao Ministério Público Federal, ficando a cargo de Rodrigo De Grandis), afirmou que “estava em vias” de pedir essa cooperação, quando o caso foi para o STF.
No fim do ano, ela pediu cooperação à Alemanha e à Inglaterra. O Uruguai “não tem tradição de cooperar com o Brasil”, afirmou, mas é “um dos próximos países para a gente cutucar”. O promotor Silvio Marques, do Ministério Público, que conduz as investigações do caso Alstom na esfera paulista, não quis se manifestar alegando que o caso está sob sigilo.