Paulo de Tarso Lyra
Brasília – Para tentar ganhar tempo e não aumentar ainda mais a crise política com o PMDB, o PT e o governo definiram os níveis hierárquicos de interlocução na batalha verbal que vem sendo travada com os peemedebistas nos últimos dias. O presidente do PT do Rio de Janeiro, Washington Quaquá, foi escalado para responder aos ataques proferidos pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Na noite de ontem, estava prevista uma reunião entre o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), e o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Bastante criticado nos últimos dias, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, está sendo blindado por seus pares. Ele disse ontem que não vai mais bater boca com Cunha, mas acrescentou que “ele precisa definir se é situação ou oposição”.
Um dos petistas mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Devanir Ribeiro (SP) atribui as queixas de Cunha à dificuldade da presidente Dilma em concluir a reforma ministerial. “Eles podem reclamar que têm menos espaço do que queriam, mas o PMDB não é base aliada, o PMDB é governo. O Michel Temer foi eleito com a presidente Dilma”, completou Devanir. O petista acha uma bobagem as críticas feitas, inclusive por correligionários, de que as coisas eram melhores com Lula do que com Dilma. “Esse é um governo de continuidade, mas não é igual. Dilma é diferente de Lula? É. Paciência”, resumiu.
‘CHANTAGISTA’ Ao longo da quinta-feira, o embate entre Cunha e Quaquá foi intenso. Na quarta, o petista havia saído em defesa do presidente nacional do partido, Rui Falcão. “Temos grande respeito por figuras como o Valdir Raupp e o Michel Temer e achamos que a aliança com o PMDB é importante para o país. Mas o partido não pode ter chantagistas como o Eduardo Cunha, líder do grupo dos ‘bocudos’, com interesses que não são dos mais republicanos”, afirmou Quaquá. Ontem, Cunha respondeu no mesmo tom. “Não vou perder tempo e baixar o nível com um pilantra como esse Quaquá. Ele não é personagem de páginas políticas, e sim de páginas policiais”, escreveu Cunha em seu perfil em uma rede social.
Raupp defendeu o correligionário. “Cunha não está falando demais, como acham os petistas. Ele está refletindo um descontentamento que existe na bancada, esse é o papel do líder.” Para o presidente do PMDB, os dois lados têm de sentar e conversar para evitar o acirramento dos ânimos, mas ele não poupou o presidente do PT fluminense. “O Quaquá tem que se preocupar com os problemas dele. Ele não tem cacife moral para ficar falando sobre o PMDB”, rebateu Raupp.