Após oito anos no governo, Lula ainda mostra a força que tem nas relações internacionais. Na visita à Itália, almoçará com o recém-empossado primeiro-ministro, Matteo Renzi, jovem líder do Partido Democrata (PD).
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), vê a articulação do ex-presidente como válvula de escape para promover as ações do PT. “Lula está em campanha eleitoral tentando criar uma imagem positiva para contrapor o mensalão do PT”, pontuou . “Ele vai a Cuba, à Itália, circula em todas as áreas, usa essa boa relação para mostrar que o PT é capaz de superar o desgaste do mensalão.” O presidente da Comissão de Relações Exteriores, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), reconhece as “ligações políticas” do ex-mandatário, mas, no entanto, não admite que Lula represente oficialmente o país no exterior.
Na análise do deputado Roberto Freire (PPS-SP), a intervenção do ex-presidente nas negociações do governo provoca um desastre político. “Não temos um governo, temos duas cabeças no mesmo governo”, ataca Freire, referindo-se à presidente Dilma Rousseff e a Lula. “Não se pode ter dualidade no poder, isso causa inércia da própria governabilidade”, enfatizou. Desde que a coligação PT e PMDB ameaçou rachar, Lula atua para tentar mantê-la. Na semana passada, uma foto apertando a mão de Dilma confirmou a presença do ex-chefe nas decisões do governo. Participaram do evento os presidentes do PMDB, Valdir Raupp (RO), e do PT, Rui Falcão (SP).
Brecha
A intervenção do ex-chefe de Estado revela uma “disfuncionalidade na política externa”. Na avaliação de especialistas, é como se agenda atual não fosse capaz de suprir a demanda e o ex-presidente colaborasse ocupando essa brecha. “A agenda é relativamente modesta para o Brasil perto do arco de iniciativas que Lula lançou no exterior quando presidente”, analisa o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) José Flávio Saraiva. “É um contraste entre o ativismo e o recuo do campo diplomático do Brasil.” Para Saraiva, a presidente Dilma Rousseff age reativamente, como no caso da espionagem americana revelada pelo ex-agente Edward Snowden, quando Dilma cancelou uma visita a Washington.
Quando fala fora do Brasil, Lula é automaticamente relacionado ao mais alto posto do governo, mesmo sem ocupar a cadeira.
Para Saraiva, no cenário internacional, o ex-presidente esbanja força. “O movimento combina muito com o fato de ele ter apreciado a inserção internacional do Brasil como presidente. Lula pegou gosto pelo mundo e é reconhecido, é possível que não saibam pronunciar o nome da presidente Dilma, mas do Lula, com certeza, governantes internacionais sabem.” Apesar desse gosto, o especialista defende ainda que Lula deixou um bom legado, “um bom capital político diplomático pelo mundo”. A extensa agenda internacional de Lula, segundo Saraiva, segue a tradição de um ex-mandatário. Para o especialista, ocorreu o mesmo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e com a falecida ex-primeira-ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher, que também rodava o mundo fazendo palestras.
Áreas de influência
Confira os campos em que Lula circula com desenvoltura
Na política
Apesar de ter deixado o governo em 2010, o ex-presidente nunca abandonou o jogo político. Sempre que a corda aperta, é ele que faz o meio de campo para evitar possíveis crises. Lula está presente nas negociações para evitar um racha entre a aliança PT e PMDB.
No Congresso
Além de conselheiro de Dilma, Lula participa das movimentações do Congresso. Líder do PT na Câmara, Vicentinho Alves (PT-SP) analisa convidar o ex-presidente assim que retornar da Itália para se reunir com a bancada do PT na Casa. Vicentinho descarta que a visita seja para aparar as arestas entre o PMDB e o PT. “Queremos o ex-presidente mais presente aqui na Câmara.”
Na economia
Lula ganhou fama de ter ajudado a expandir a economia brasileira no exterior. Nos oito anos do governo lulista, o lucro da Vale aumentou de R$ 21,1 bilhões (no período FHC) para R$ 132,4 bilhões, obtendo um crescimento de 526,7%. Aliado ao impacto econômico, aumentou também a representatividade. A Vale ganhou o mercado externo, que ainda estava acanhado. No governo Lula, a Vale se tornou a maior investidora na África, com operação de carvão em Moçambique.
Na diplomacia
O ex-presidente Lula encantou mundo afora e conquistou livre acesso nos mais diferentes governos. Circula da ditadura cubana, com bom acesso a Fidel Castro, ao capitalismo americano, onde foi chamado de “o cara” pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O ex-presidente também se manifestava como fiel apoiador do presidente Nicoás Maduro, na Venezuela. Após deixar o governo, Lula manteve uma ativa agenda. Faz palestras e é recebido em diversos países, mantendo a diplomacia viva. Representa o Brasil no exterior, mesmo estando oficialmente fora do governo. Amanhã, será recebido pelo recém-empossado primeiro-ministro italiano, o jovem líder do Partido Democrata (PD) Matteo Renzi, com quem vai almoçar..