Para fugir de possíveis vaias na abertura da Copa do Mundo, o mandatário da Fifa, o suíço Joseph Blatter, decidiu que nem ele nem a presidente Dilma Rousseff vão discursar durante a cerimônia. A precaução deve evitar novos constrangimentos, como o ocorrido no ano passado, na Copa das Confederações, quando a dupla foi vaiada e impedida de falar ao público. O anúncio foi feito ontem por Blatter, em entrevista à agência de notícias alemã DPA, confirmando o rompimento com a tradição de discursos dos chefes de Estado que recebem o Mundial, além do pronunciamento de um representante da Fifa.
Caso cumpram a promessa de não falar na abertura, será a primeira vez em três décadas que o protocolo é quebrado. Em 1994, por exemplo, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, não discursou, mas foi representado por seu vice, Al Gore. Em 2002, na abertura da Copa realizada na Coreia do Sul e no Japão, Blatter teve sua fala frustrada por vaias e pediu “fair play”(jogo limpo) à plateia. Só assim conseguiu terminar a exposição. Nas duas competições seguintes, os eventos transcorreram sem grandes intervenções negativas dos torcedores. Em 2006, na Alemanha, o então presidente Horst Koehler e a primeira-ministra Angela Merkel discursaram. Em 2010, um pequeno incidente na África do Sul não chamou muito a atenção. O presidente Jacob Zuma agradeceu à população por receber os convidados de forma calorosa, mas, em seguida, o ex-zagueiro da Seleção Sul-africana Lucas Radebe acabou vaiado enquanto falava.
O protesto em forma de vaia reapareceu na Copa das Confederações do ano passado e coincidiu com uma onda de manifestações nas principais cidades do Brasil, onde foram contestados os gastos públicos com a organização do Mundial. Em praticamente todos os 16 jogos da competição houve protestos no entorno dos estádios. Em muitas cidades, houve confronto com a polícia e quebra-quebra. Na abertura, em Brasília, Dilma se limitou a fazer uma saudação formal e declarar aberto o evento.
Para evitar que as fortes vaias aconteçam novamente em junho, Blatter confirmou que a cerimônia será realizada de maneira que não haja nenhum discurso. Questionado sobre a possibilidade de novos protestos, o suíço disse que não é “profeta” para prever o que acontecerá e ressaltou que a situação no Brasil hoje é mais calma. "Estou convencido de que os protestos sociais não vão poder utilizar os mesmos argumentos usados na Copa das Confederações porque eles não são válidos. Estou convencido de que a situação se tranquilizou", concluiu.
A abertura da Copa do Mundo está marcada para 12 de junho, no Itaquerão, em São Paulo. O evento deve se resumir a shows pirotécnicos e apresentações de artistas antes da primeira partida, entre Brasil e Croácia, às 17h. Dilma não se manifestou sobre a entrevista de Blatter. Em visita oficial ao Chile para a posse da presidente Michelle Bachelet, ela esteve na manhã de ontem com atletas brasileiros que disputam os Jogos Sul-Americanos em Santiago.
SEGURANÇA A secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki, afirmou ontem que a Força Nacional está pronta para auxiliar as polícias das cidades-sede da Copa do Mundo. Mesmo sem ter recebido pedidos oficiais de ajuda, a tropa federal já tem um plano de ação elaborado caso seja acionada. “A Força Nacional está apta para atuar em qualquer segmento da segurança pública, seja nos jogos ou fora deles. Ainda estamos como força de contingência, pois não temos participação requerida por qualquer estado", garantiu. A Força Nacional também poderá agir em locais onde as seleções estejam hospedadas ou em treinamento. Para isso, ela precisa ser requisitada pelos governadores.
Um protocolo tradicional
Saiba como foram as participações de políticos nas cerimônias de abertura das últimas Copas do Mundo
» 2010, África do Sul
Logo após uma apresentação de música e dança no Orlando Stadium, em Soweto, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez discurso de agradecimento, antecedendo pronunciamento do presidente sul-africano, Jacob Zuma. Blatter agradeceu aos sul-africanos por receberem os convidados de forma calorosa.
Campeã: Espanha
» 2006, Alemanha
Depois de uma bonita festa, com homenagem aos campeões mundiais, no Allianz Arena, em Munique, o presidente da Alemanha, Horst Köhler, abriu oficialmente o torneio. Ele estava acompanhado de Blatter e do presidente do Comitê Organizador do Mundial, o ex-craque alemão Franz Beckenbauer.
Campeã: Itália
» 2002, Coreia do Sul e Japão
Depois das vaias que marcaram o discurso de Blatter – acusado de corrupção e má administração da Fifa –, o então presidente da Coreia do Sul Kim Dae-jung e o primeiro-ministro japonês da época Junichiro Koizumi fizeram discursos em nome da paz. Os dois países sediaram a Copa juntos. A abertura foi em Seul.
Campeão: Brasil