Jornal Estado de Minas

Votação no Senado de mudança do indexador das dívidas de estados e municípios terá casa cheia

Relator do projeto que muda o cálculo de correção de dívidas de estados e municípios convoca governadores e prefeitos para acompanhar votação

Bertha Maakaroun - enviada especial
O relator do Projeto de Lei Complementar 99/2013, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), convocou nessa terça-feira governadores, prefeitos e secretários de estado da Fazenda para acompanhar a votação nesta quarta-feira, na Comissão de Constituição, Justiça (CCJ) do Senado da matéria que muda o indexador das dívidas dos estados e municípios com a União.
“Não está fácil a aprovação. A presença deles será decisiva”, acredita.

Se os senadores não aprovarem o projeto que altera o indexador das dívidas dos estados com a União, Minas Gerais chegará em 2028 ainda devendo R$ 45 bilhões, que terão de ser pagos até 2038. Isso depois de ter desembolsado pelos próximos 14 anos cerca de R$ 70 bilhões em juros e amortização – R$ 5 bilhões ao ano – para pagar uma dívida que fechou dezembro de 2013 em R$ 67,4 bilhões. A estimativa é de Leonardo Colombini, secretário de Estado da Fazenda.

Mas, se a proposta, que será hoje apreciada pela CCJ, for aprovada, haverá luz ao fim do túnel para que estados liquidem o débito. O saldo da dívida de Minas em 2028 será de R$ 4,7 bilhões a serem pagos em 10 anos, o que representará um desembolso de R$ 700 milhões ao ano contra R$ 5 bilhões previstos para serem pagos em 2014 com juros e amortização, calcula Colombini.
“Essa mudança dará condição aos estados de pagarem o que devem. No acumulado até 2028, se o projeto for aprovado, Minas reduzirá mais de R$ 40 bilhões o seu saldo devedor”, acrescentou.

Intensamente negociado entre governadores e o governo federal ao longo de 2012, o projeto, que foi encaminhado para o Congresso Nacional pelo Executivo e já foi aprovado pela Câmara dos Deputados muda o indexador da dívida dos estados – do IGP-DI mais 7,5% ao ano no caso de Minas para o IPCA mais 4% ao ano.

Em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lideranças partidárias e governadores, no mês passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu aos senadores que não votem a proposta neste momento. Segundo ele as agências internacionais poderão rebaixar a nota de risco do Brasil. A preocupação das agências de risco não se dá em relação à mudança do indexador em si. O problema é que na Câmara dos Deputados foi incluída na proposta a retroatividade da revisão dos encargos pela Selic desde o início do contrato. A Prefeitura de São Paulo, que tem juros reais de 9%, é a maior beneficiária da proposta.

Para Minas, o projeto não representa um alívio imediato aos cofres porque não altera o comprometimento da receita líquida do estado com a dívida. “Minas paga atualmente 13% da receita líquida e continuará a fazê-lo”, afirma Leonardo Colombini. No ano passado, o desembolso com juros e amortização da dívida foi de R$ 4 bilhões. “O que altera é a viabilidade de que a dívida venha a ser liquidada”, sustenta Colombini. “Aprovar essa matéria para os estados seria muito importante, pois significará deter o crescimento da dívida”, diz o secretário da Fazenda.

Os juros reais de 7,5% ao ano sobre a dívida representam, hoje, muito mais do que o crescimento da economia.
“Para que o nosso saldo devedor pare de subir, nossa economia teria de crescer todo ano 7,5%. A vantagem de abaixar para o IPCA mais 4% de juros é que a dívida se torna mais factível de ser paga”, avalia Colombini.

EMENDAS Além do artigo que estabelece a retroatividade da revisão dos encargos pela Selic, outro complicador para a aprovação da matéria são as três emendas apresentadas pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Ele quer a proibição da cobrança de juros nos contratos de empréstimos firmados com estados, Distrito Federal e os municípios, além da criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigue os atos e fatores geradores das dívidas. A última emenda altera a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) em relação às exigências para concessão de incentivos fiscais. Como essas emendas dificultarão a aprovação do projeto, a base do governo tenderá a apoiá-las. Como a matéria já foi aprovada na Câmara, qualquer mudança no Senado terá de voltar a ser apreciada pelos deputados federais.

Randolfe chegou a apresentar requerimento para retirar as emendas, mas a base do governo no plenário as manteve. Na avaliação do relator Luiz Henrique, se a matéria voltar para a Câmara, o seu resultado será “incerto”. Por outro lado, se o texto for aprovado sem alterações na CCJ, na Comissão de Assuntos Econômicos e no plenário do plenário, ele seguirá diretamente para sanção presidencial..