Jornal Estado de Minas

Grupos de direita e esquerda podem se enfrentar nas ruas no aniversário do golpe de 64

No mês de aniversário de 50 anos, grupos que exaltam e contestam o legado do regime militar organizam manifestações nas capitais e podem bater de frente na Praça da Sé, em São Paulo

Maria Clara Prates

- Foto: Reprodução da Internet

No rastro das manifestações que tomaram as ruas de todo o país em junho, grupos de direita e esquerda prometem ocupar novamente as vias públicas, este mês, em razão do aniversário de 50 anos do golpe de 64. Pela primeira vez desde o fim da ditadura, defensores do regime militar prometem sair para defender publicamente o movimento. O epicentro da queda-de-braço será a cidade de São Paulo, onde está sendo reeditada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que aconteceu uma semana antes de o Exército tomar o poder no país e defendia a queda do então presidente João Goulart. Agora organizada por entidades civis, entre elas a Organização de Combate a Corrupção        (OCCAlerta Brasil), a marcha está marcada para o próximo dia 22, na Praça da Sé.

No sentido contrário, a entidade Antifacista (Antifa), que atua em vários países, promete ocupar o mesmo espaço, Praça da Sé, com o slogan “ditadura nunca mais”, também no dia 22. Inicialmente, a manifestação iria acontecer no dia 1º de abril, mas a data foi alterada com a convocação para a marcha. O Antifa diz em sua página nas redes sociais que mantém o anominato de seus integrantes, mas esclarece ser um grupo de combate a qualquer tipo de facismo, lutando contra racismo, homofobia, vandalismos, entre outras bandeiras. Em Belo Horizonte, o grupo fez manifestações contrárias às ações do Black Bloc, durante as manifestações na Copa das Confederações, no ano passado.
O encontro entre os defensores do golpe e os antifa tende a acontecer também em Curitiba e no Rio de Janeiro.

Nome  Belo Horizonte também não vai ficar de fora do mapa dos protestos contra o golpe. No dia 1º de abril, a Frente Independente pela Memória e Justiça de Minas está convocando a população para ocupar o Elevado Castelo Branco, que liga a Região Central da Capital à Avenida Pedro II, em tributo aos mortos e desaparecidos do regime militar. O viaduto está sem nome desde que a Câmara Municipal aprovou projeto para retirada da homenagem a Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar, mas a Casa ainda não apreciou o projeto para dar o nome em homenagem à militante dos Direitos Humanos e ex-vereadora da capital, Helena Greco. De acordo com sua filha, Heloísa Greco, durante a manifestação, o elevado receberá uma faixa com o nome de sua mãe, conforme o desejo da população.

De acordo com a OCCAlerta Brasil, que apoia com a divulgação da marcha da família, esta manifestação é em repúdio à “ditadura proletária do PT”, responsável pela “farsa do julgamento do mensalão, as obras superfaturadas da Copa, a má gestão da coisa pública, morte de milhares de compatriotas nas filas dos hospitais, falta de medicamentos, impostos mais caros do mundo, arrecadação recorde, aumento da roubalheira e institucionalização da corrupção e da impunidade.” Defendem ainda, segundo a organização, o impeachment da presidente Dilma. Em julho, a entidade foi responsável pela mesma marcha que aconteceu em São Paulo e Rio e reuniu pouco mais de 100 pessoas em frente ao Museu de Arte Moderna (Masp).

Militares
  Pouco afeitos à manifestação públicas, militares começam a deixar a caserna para dar apoio ao golpe. Na revista Sociedade militar, o general de Brigada Paulo Chagas se manifestou a favor da Marcha da Família. “Os militares em reserva se têm somados aos civis que enxergam em uma atitude das Forças Armadas a tábua da salvação para a Pátria ameaçada, quando não são eles próprios os alvos do clamor daqueles que já identificam nas imagens dramáticas da capital venezuelana a cor fúnebre do nosso destino”, escreveu. Por sua vez, o general de Exército na reserva Rômulo Bini Pereira, depois de assinar editorial em jornal impresso em defesa do golpe de 64, convocou os que pensam como ele a se manifestarem no dia 31 de março, de forma simbólica, “com uma ruidosa saudação advinda de salva de foguetes, em hora e data marcadas”, a partir das 20h. E fez uma advertência: “Não usem armas”.saiba mais

MARCHA DE 64

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade é um nome comum a uma série de eventos ocorridos em março de 1964 em resposta à considerada “ameaça comunista” do comício do presidente João Goulart no dia 13 de março daquele ano. Neste ato, o presidente prometeu reformas de base, que eram uma série de mudanças administrativas, jurídicas, econômicas e agrárias, que feriam os interesses das classes média e alta, já que haveria distribuição de bens e terras. Vários grupos sociais, o clero, as famílias e os setores políticos mais conservadores se organizaram em marchas, levando às ruas mais de 1 milhão de pessoas, no intuito de derrubar o presidente João Goulart do governo. A primeira aconteceu no dia 19 de março, dia dedicado a São José, padroeiro das famílias, em São Paulo, com uma participação de 500 mil pessoas, organizada pela Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), da União Cívica Feminina, da Fraterna Amizade Urbana e Rural, entre outros grupos. Na ocasião, foi distribuído o “Manifesto ao povo do Brasil” pedindo o afastamento do presidente João Goulart.

 

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