Os números retratam as estatísticas do sistema penitenciário brasileiro. Apenas 0,1% dos presos no país cumprem pena por corrupção, de acordo com o último levantamento do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), divulgado em dezembro de 2012. Para agravar a situação, alguns ex-prefeitos condenados ao semiaberto – quando passam o dia no trabalho e dormem na prisão – acabam escapando da condenação por falta de vagas nesse tipo de regime. Caso de Alagoas, onde não há local para o cumprimento de penas dessa natureza, que representam grande parte das sentenças envolvendo agentes políticos.
O principal motivo de poucos estarem detidos, no entanto, é a lentidão do Judiciário e seu extenso cardápio de recursos à disposição dos advogados. Além disso, são raros os casos de juízes que decretam a prisão de políticos antes da sentença final, quando não há mais possibilidade de recorrer. Enquanto isso, eles colecionam processos com uma ou nenhuma decisão definitiva. É o caso do ex-prefeito de Sucupira José Carlos de Carvalho (PMDB). O município de 1,7 mil habitantes, no interior de Tocantins, não só leva o nome da pequena cidade retratada por Dias Gomes na telenovela O bem-amado, como também teve um prefeito que não fica muito atrás de Odorico Paraguaçu – personagem principal da trama que foi ao ar em 1973 – quando o assunto é corrupção. Carvalho acumula 13 processos. Em um deles foi condenado pela Justiça Federal a seis anos de prisão por desviar dinheiro para a compra da merenda escolar. Ele não está preso porque recorreu da decisão. O desvio teria ocorrido em 2000, quando estava no comando de Sucupira, mas só no ano passado houve a primeira condenação.
Mesmo caso do ex-prefeito de Pedro Alexandre, na Bahia, a 355 quilômetros de Salvador, Petrônio Pereira Gomes (PSDB), que só teve sua primeira condenação em janeiro por crimes que cometeu entre 1997 a 2004.
Há casos em que os ex-prefeitos já foram condenados à prisão em mais de um processo, mas por causa dos recursos permanecem em liberdade. Em Belém, na Paraíba, com 18 mil habitantes, o ex-prefeito Tarcísio Marcelo (PSB), irmão do presidente da Assembleia Legislativa do estado, Ricardo Marcelo (PSDB), já foi condenado duas vezes à prisão por desvios durante um dos seus três mandatos à frente do Executivo (1983-1988/1997-2004). Ano passado ele foi condenado a três anos de prisão por desvios de verbas do Programa Saúde da Família em 2001. Dois anos antes, foi sentenciado a um ano e três meses de detenção por fornecer informações falsas ao Tribunal de Contas da União (TCU), mas a pena foi substituída por prestação de serviços.