Entre os detentos condenados por tráfico, roubo e furto, os mensaleiros. O Centro de Progressão Penitenciária (CPP), que abriga os presos do regime semiaberto do Distrito Federal, faz parte do cenário político desde que passou a abrigar, entre o fim de 2013 e o início deste ano, envolvidos no escândalo de compra de apoio parlamentar no governo Lula. A presença deles no edifício, localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), é marcada por polêmicas, que já custaram o cargo de responsáveis pela unidade. O principal problema, segundo detentos ouvidos pelo Estado de Minas, é o suposto tratamento diferenciado que os mensaleiros recebem em relação aos demais apenados que trabalham durante o dia e passam a noite no CPP.
Hoje, há apenas três no local: os ex-deputados Valdemar Costa Neto e Bispo Rodrigues, ambos filiados ao PL (hoje PR) na época do escândalo, e o ex-assessor do partido Jacinto Lamas. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares chegou a ficar detido no local, mas foi transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda justamente devido às suspeitas de receber tratamento diferenciado.
Alimentação diferenciada e displicência na hora da revista são as regalias mais comentadas entre os detentos. Durante o período da saída para o horário de trabalho, eles contaram ao Estado de Minas, sem se identificar, a diferença de tratamento entre os presos comuns e os políticos. “A vida deles é uma luva aí dentro. São todos cheios de regalias. É o que eu tenho para dizer”, diz um deles. Outro também prefere ser sucinto: “Eles são especiais, não é mesmo? É tudo melhor e mais fácil para eles, sempre melhor”, resume. A maioria dos internos, quando se refere aos mensaleiros, assume logo um tom de ironia.
Um dos momentos em que as distinções ficam mais claras é no retorno deles para o prédio. A revista dos condenados da Ação Penal 470 é um processo bastante diferente, de acordo com os presos comuns. “Eles não pegam fila. A gente pode estar esperando, mas quando eles chegam, passam na frente de todo mundo”, conta um jovem que cumpre pena no local há dois anos e, durante esse período, afirma que é a primeira vez que se depara com tais privilégios. “Enquanto a gente tem que tirar a camisa, a calça, abaixar a cueca, e agachar, eles chegam, dão o horário de entrada, mostram os bolsos e seguem”, relata.
CAMISAS Segundo outro detento, o tratamento depende do funcionário de plantão no momento. “Vai do cara que está responsável pela revista. Às vezes, os mensaleiros também têm que levantar a camisa para passar”, diz. Eles se acostumaram a ver as regras se abrandarem com os presos famosos. “Não podemos usar roupa preta, temos que evitar as camisas escuras, por causa da cor do uniforme dos policiais. Já eles usam o que querem”, detalha o detento, que relata já ter visto um mensaleiro entrar com um capacete, o que é proibido.
Memória
Feijoada e estacionamento
A Vara de Execuções Penais (VEP) suspendeu, no fim de fevereiro, benefícios externos do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que, em janeiro, havia sido transferido do Complexo da Papuda para o CPP, depois de autorizado a iniciar o trabalho na Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 28 de fevereiro, Delúbio foi levado de volta para a Papuda sob a justificativa de que teria recebido regalias no cárcere, como feijoada e ser buscado diariamente no pátio do CPP por um carro da CUT. Ainda em fevereiro, o diretor e o vice do CPP caíram depois de desagradar a Delúbio Soares ao mandá-lo retirar a barba, exigência para todos os detentos, e por não permitirem que ele deixe o carro que usa para ir ao trabalho na CUT no estacionamento próprio do presídio. Desde o ingresso dos mensaleiros no sistema penitenciário do DF, a partir de 16 de novembro, começou o entra e sai de parlamentares, amigos e familiares fora dos dias e horários de visita. A Justiça determinou que fosse dado tratamento isonômico aos presos, sem regalias para os mensaleiros.