Jornal Estado de Minas

"Marmita quentinha", diz preso sobre alimentação de mensaleiros

Ana Pompeu
Um deles se chateia ao comentar as regalias com a alimentação.
“Já vi entrarem com legumes. A gente só fica olhando. O resto é marmita direto. A gente não sabe nem o que tem dentro”, conta o preso, que não soube precisar qual dos mensaleiros chegou ao CPP com a sacola de legumes. “Os próprios policiais entregam o marmitex. Para a gente, nem o documento de identidade que um dia esqueci eles levaram”, compara. “Para a gente é aquela velha lavagem.
Esse pessoal não come isso não”, provoca outro. “A gente só sente o cheiro da marmitinha quentinha deles”, brinca um terceiro. Outro detendo que passa e ouve a conversa diz: “Os mensaleiros não se misturam com a ralé não, meu amigo”. A alimentação diferenciada ocorre, de acordo com eles, principalmente nos fins de semana.

Um detento com seis anos no sistema prisional de Brasília por conta de assaltos cometidos no início dos anos 2000 é mais resignado. “Deve ser porque têm ensino superior e dinheiro. Esses sempre tiveram a vida mais fácil. Não tenho nem um nem outro”, afirma. Outros se mostram irritados com a diferença. “Na ala deles, são 50 pessoas. Na nossa, tem gente dormindo no chão, embaixo de cama, gente para todos os lados”, reclama. Um mais radical sugere: “Por que não misturam esses caras com a massa? Aí seria bom”. Tudo isso tem uma explicação óbvia para outro preso do semiaberto: “Eles são do governo, né? Alguém esperaria outra coisa?”.

A Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) não deu explicações em relação aos relatos dos detentos. O subsecretário Cláudio de Moura Magalhães enviou nota, por meio da assessoria de imprensa, na qual “informa que, por hora, não se pronunciará quanto aos internos da Ação Penal 470, tendo em vista a excessiva exposição dos mesmos frente aos veículos midiáticos”.
Procurados pela reportagem, os advogados dos mensaleiros presos no CPP não foram encontrados nem retornaram as ligações..