A Rede Sustentabilidade está em pé de guerra em Minas Gerais. O partido, que ainda não tem registro na Justiça eleitoral e se abriga temporariamente no PSB, enfrenta disputa entre integrantes e discordância com o comando nacional sobre os rumos da legenda no estado. A mais nova desavença tem como pivô um dos integrantes da direção nacional da Rede, Martiniano Pereira Cavalcante Neto, ex- dirigente do PSOL, afastado em 2012 da legenda depois da revelação da existência de um depósito de R$ 200 mil de uma das empresas do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em sua conta corrente. Hoje coordenador de Organização da executiva nacional provisória da Rede, Martiniano apresentou há cerca de dois meses um pedido de impugnação da filiação do ex-deputado federal José Fernando Aparecido de Oliveira, também integrante da executiva nacional e um dos fundadores do partido da ex-senadora Marina Silva (PSB-AC) em Minas Gerais.
Ano passado, antes mesmo do fim da coleta de assinaturas para o registro da legenda, o porta-voz nacional da Rede, Cássio Martinho, já havia divulgado um manifesto nas redes sociais criticando José Fernando. O ex-deputado foi acusado de fazer um “vale-tudo”, de “falta de transparência” e “conduta antidemocrática e truculência”.
Nessa terça-feira, o ex-deputado protocolou um pedido de abertura na Comissão de Ética da Rede de uma investigação contra ele mesmo, alegando estar sendo vítima de perseguição na legenda. E disparou contra Marina Silva. De acordo com o texto do pedido, o estado de Minas Gerais, segundo colégio eleitoral do Brasil, foi “esquecido, abandonado e desprezado pela ex-senadora Marina Silva”, que “lamentavelmente não se posiciona pela candidatura própria, e cuja a aliança PSB/Rede se traduz hoje pela conveniência eleitoral entre os presidentes partidários Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB)”, diz o documento assinado por José Fernando. O ex-deputado ocupava o cargo de coordenador nacional financeiro da Rede e, em 2010, teve sua candidatura ao governo do estado, na época pelo PV, apoiada por Marina Silva.
Em janeiro, um grupo de filiados da Rede em Minas, liderados por Cássio Martinho, chegou a divulgar uma carta pregando a necessidade de romper a hegemonia do PSDB no estado. A posição foi rebatida por meio de uma nota do comando nacional dizendo ser essa uma posição do partido em Minas e não da direção da legenda. O PSB caminha para uma aliança com o PSDB na disputa pelo governo do estado, mas integrantes da Rede defendem em Minas o lançamento da candidatura do médico e ambientalista Apolo Heringer Lisboa. O pedido de abertura de um processo diz ainda que José Fernando solicitou “por diversas vezes em reunião da executiva nacional e através de mensagens, e-mails, telefonemas e pessoalmente, a apresentação por parte do senhor Cássio Martinho das supostas provas das acusações feitas contra ele e da apreciação do pedido de sua expulsão feita pelo senhor Martiniano Cavalcante”.
Procurado, o comando da Rede informou, por meio de sua assessoria, que não vai se pronunciar sobre o assunto e recomendou à reportagem que procurasse diretamente os citados na carta. A reportagem não conseguiu localizar a ex-senadora nem o diretor de organização partidária. Cássio Martinho não foi encontrado no celular para comentar o assunto.