Jornal Estado de Minas

Para conter crise, Governo demite responsável pelo relatório que recomendou a compra de refinaria

Executivo da BR Distribuidora apontado como responsável pelo relatório que recomendou a compra de refinaria que causou prejuízo à Petrobras é exonerado da subsidiária da estatal

Paulo de Tarso Lyra Amanda Almeida

Agora demitido, Cerveró havia sido elogiado pela presidente da Petrobras na Câmara, em 22 de maio - Foto: Alaor Filho/Estadão Conteúdo - 12/5/06

Brasília – O Conselho de Administração da Petrobras exonerou nessa sexta-feira o diretor de Finanças da BR Distribuidora, Nestor Cerveró. A decisão, tomada durante a reunião do colegiado em São Paulo, ocorre três dias depois de a presidente Dilma Rousseff ter responsabilizado Cerveró por “omitir informações” no relatório que subsidiou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Em nota, o conselho afirmou que “o presidente da subsidiária, José Lima de Andrade Neto, acumulará interinamente as atividades dessa diretoria”.

Ao penalizar Cerveró, de férias na Europa quando recebeu a notícia da demissão, o governo tenta preservar a empresa do negócio, que está sendo alvo de críticas no Congresso. Por outro lado, pretende atenuar o estremecimento entre Dilma e a diretoria da estatal, provocado pelas críticas feitas pela presidente quanto ao processo de compra da refinaria americana. Dilma afirmou que, se tivesse conhecimento de algumas cláusulas do contrato – como a que obriga que um dos sócios compre a parte do outro em caso de desistência do negócio – não teria aprovado a operação.

Mas diversos diretores da Petrobras, incluindo o ex-presidente da empresa Sérgio Gabrielli, disseram que as cláusulas constantes no contrato de compra são comuns em negociações dessa natureza e que o assunto foi intensamente discutido antes de a decisão final ser tomada. Dilma, então, revisou a resposta e declarou que o negócio foi fechado “por ser vantajoso”.
Esse é um primeiro passo para tentar estancar a crise que o episódio causou no governo ao longo desta semana.

Explicações O governo e a Petrobras negociam a ida da presidente da empresa, Maria das Graças Foster, ao Congresso, para explicar novamente a compra da refinaria de Pasadena. Segundo diretores da empresa, o negócio era essencial em 2006, em um momento em que o Brasil necessitava de alternativas para o refino do petróleo, mas que perdeu importância após a descoberta do pré-sal, em 2008, e devido ao estouro da crise econômica internacional, que diminuiu o fluxo de capitais no mundo.

Graça Foster já está convidada a comparecer à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. O convite, aprovado com apoio dos deputados que integram o chamado blocão, seria para que a executiva explicasse as denúncias de pagamento de propina da empresa holandesa SBM Offshore à Petrobras para a compra de plataformas de exploração de petróleo. Os deputados também aprovaram a formação de uma comissão de externa de nove parlamentares para acompanhar as investigações sobre o caso em curso na Holanda.

Com a crise aberta por conta da refinaria de Pasadena, a direção da empresa estuda negociar o adiamento em uma semana da audiência, para que o caso seja esclarecido. “Mas Graça Foster não se furtará a ir ao Congresso. Ela já fez isso no ano passado, assim como o ex-presidente Sérgio Gabrielli”, disse um executivo do setor.

Foster esteve na Câmara no ano passado, mais precisamente em audiência na Comissão de Minas e Energia, em 22 de maio. Naquela data, inclusive, a presidente da Petrobras, questionada sobre as razões da permanência de Nestor Cerveró na diretoria financeira da BR Distribuidora, elogiou intensamente as qualificações do subordinado. “Como presidente da Petrobras, tenho o dever de cuidar da BR como um todo. E o resultado da BR Distribuidora é excepcional, uma empresa que tem tido um lucro líquido grandioso e é produto de vários profissionais que lá estão”, enalteceu ela.


CASO PASADENA

O lucro do barão
Se a Petrobras teve um prejuízo bilionário com a compra da refinaria de Pasadena (EUA), o barão Albert Frére (foto), de 88 anos, foi quem lucrou com o negócio com a estatal brasileira. Frére, que é um dos homens mais ricos da Bélgica, não terminou o colegial e começou a carreira salvando o negócio de sua família.
Com uma fortuna estimada em US$ 4,9 bilhões, o barão ocupa a posição 295 no ranking de bilionários da revista Forbes. O empresário ainda é conhecido pela paixão por vinhos – é um dos donos do francês Chateau Cheval Blanc. Em 1994, recebeu o título de barão das mãos do rei Albert II. Ele é controlador da empresa belga Astra Oil, que comprou a refinaria de Pasadena em 2005 por US$ 42,5 milhões e no ano seguinte vendeu 50% dela para a Petrobras por US$ 360 milhões. A empresa do barão belga recebeu ainda US$ 820,5 milhões pelos outros 50% em razão de uma cláusula no contrato, chamada put option, estabelecendo que um deveria comprar a parte do outro em caso de litígio entre sócios. .