A Comissão Nacional da Verdade (CNV) já pediu ao Ministério da Defesa que investigue as unidades das Forças Armadas que foram transformadas em centros de tortura no país durante a ditadura. Relatório da CNV aponta sete dependências militares usadas para este fim, uma delas em Belo Horizonte: o quartel do 12º Regimento de Infantaria do Exército, no Barro Preto, Região Central. Já um estudo, ainda em andamento, coordenado pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e assessora da CNV, Heloísa Starling, confirma a existência até agora de 36 locais de tortura – incluindo áreas militares, delegacias e casas – em sete estados brasileiros. No entanto, outra pesquisa, feita pelo historiador Rubim Aquino, ja falecido, e lançada em 2010, aponta 212 endereços onde os presos políticos sofreram todo tipo de violência.
Apesar dos números serem expressivos, os dados sobre a tortura no Brasil estão aquém da realidade, pois muitos presos eram orientados pelos próprios advogados a não denunciar a violência para tentar garantir a liberdade condicional ou a soltura, relata Marcelo Schneider, assessor do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e um dos integrantes do projeto de digitalização de todo o acervo com os depoimentos dos presos, que estava em poder do conselho. “Esse conjunto de documentos é um resgate da memória, um clamor pela transparência e um chamado à responsabilidade de todos os cidadãos para que esses fatos não sejam esquecidos e não se repitam”, defende.
As formas de tortura
» 1.843 pessoas foram torturadas durante o regime militar
» As violações ocorreram em 246 dependências do Estado e clandestinas
» O auge das denúncias de tortura aconteceu no período de 1969 a 1970
» Nessa época, foram 2.233 casos de tortura
» A maioria dos torturados no Brasil eram homens entre 22 a 35 anos
» Ao todo, foram relatados pelo menos 6.016 tipos de tortura, classificados em nove categorias
Coações morais e psicológicas
Ameaça de violação sexual, ameaça de afogamento, ameaça de cortar orelha ou de cortar seios, cuspes no rosto, danças com urnas mortuárias, ambiente de terror
Coações físicas
Pontapé, pancada nos lábios com mangueira, pau loca (roda de palmatória), choques, murros, sevícias, tortura na frente de familiares, ácido no corpo
Violência sexual
Introdução de objetos no ânus, entre eles velas, baratas, e bastões de choque, orgãos genitais furados com agulha, esmagamento de pênis e testículos
Castigos com instrumentos
Alicate para apertar e arrancar as unhas, cortes com giletes, marteladas nas juntas do corpo, queimadura de cigarro e com maçarico, canivete por baixo das unhas
Tortura com aparelhos mecânicos
Corda amarrada no pescoço e nos testículos, pau de arara, pendurado pelos pés com os braços suspensos, pendurado pelos punhos com argolas, braços amarrados para cima nas grades
Tortura com aparelhos elétricos
Cadeira do dragão (era de madeira com assento metálico), choques elétricos no ânus, seio e vagina
Tortura contra sinais vitais
Afogamento, asfixia, esponja de água na boca, sal grosso na boca
Torturas complementares
Água e sal para piorar o choque, ambiente gelado depois de uma sessão de espancamento, injeção de éter, sabão nos olhos
Torturas atípicas
Uso de baratas, ratos e cobras para amedrontar a vítima, ingestão de fezes, urina e água da privada
Locais de tortura em Minas
(Relatados pelas vítimas)
» Delegacia de Furtos e Roubos, que funcionava na Rua Uberaba, no Barro Preto, em BH
» Colônia Penal Magalhães Pinto, em Ribeirão das Neves
» Dops, que funcionava na Avenida Afonso Pena, Bairro Funcionários, em BH
» Delegacia de Polícia de Cataguases, na Zona da Mata
» 11ª Delegacia, que funcionava no Bairro Serra, em BH
» Delegacia de Polícia de Além Paraíba, na Zona da Mata
» 10ª Delegacia de Policia, em BH
» 12º Regimento de Infantaria, na Rua Tenente Brito Melo, no Barro Preto, em BH
» Colégio Militar, na Avenida Antônio Carlos, em BH
» 4ª Companhia de Informações, no Bairro Sâo Francisco, em BH
» Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora
» 3ª Companhia do Batalhão de Caçadores de Uberlândia
» Delegacia de Polícia da Pampulha, em BH
» Companhia da Polícia Militar de Divinópolis
» 1º/4º RO 105, hoje 4º Grupo de Artilharia de Campanha, em Juiz de Fora