"Eu acho que foi um depoimento importante, esclarecedor. Ele acabou por reconhecer que é um torturador. Poucas vezes nós tivemos a confissão de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo critério para o crime comum, e ele assumiu que sim - para o roubo, para o tráfico. E que não tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, integrante da CNV, que interrogou Malhães.
Inicialmente, o coronel da reserva aceitou comparecer à audiência, mas queria ser ouvido reservadamente. Por fim, aceitou falar com a presença da imprensa, desde que repórteres não fizessem pergunta.
Malhães disse que foi mal interpretado nas entrevistas aos jornais
O Dia
e
O Globo
, quando falou "por meio de parábolas". Ele disse que chegou a receber a missão de dar sumiço no corpo de Rubens Paiva, mas foi deslocado para outra função. "Eu só disse que fui eu porque eu acho uma história muito triste quando a família diz que leva 38 anos querendo saber o paradeiro do corpo. Não sou sentimental, não. (Falei) Para não começar uma guerra para saber onde estava o corpo".
Segundo ele, os restos mortais de Rubens Paiva eram "uma massa morta, enterrada e desenterrada". "Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele". O coronel negou que tivesse sofrido ameaças por conta das declarações, mas afirmou que seus cinco filhos e oito netos sofreram "sanções" depois que suas declarações foram publicadas.
Malhães falou por 2 horas e 11 minutos. Ele minimizou o que era a Casa da Morte. Para o militar, o local era uma "casa de conveniência, onde se procurava ganhar o preso para ele voltar como infiltrado na própria organização". "Conseguimos vários", disse, sem informar nomes. O coronel foi evasivo em várias respostas.