O antigo Elevado Castelo Branco, uma das principais construções viárias da região central de Belo Horizonte, sem nome há mais de um ano, enfim vai ser rebatizado. Ganhará o nome de uma militante na luta contra a ditadura. Às vésperas do aniversário de 50 anos do golpe militar, os vereadores aprovaram a proposta que muda o nome do viaduto para Dona Helena Greco, primeira vereadora eleita na capital mineira.
O nome do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro presidente do governo militar, foi dado ao viaduto pelo Decreto 1.972, de 12 de fevereiro de 1971. “Autênticas expressões do espírito cívico e patriótico da nacionalidade e grandes consolidadores da vitória de 1964”, justificou o então prefeito Luiz de Sousa Lima. O decreto foi revogado em 5 de dezembro de 2012, deixando o elevado sem nome.
A proposta que batiza o viaduto de Helena Greco, apresentada pelo vereador Tarcício Caixeta (PT) pela primeira vez em junho de 2012, foi recebida com resistência pelos parlamentares policiais civis e militares da Casa. O grupo, chamado de bancada da bala, chegou a travar a tramitação do texto com o argumento de que o pedido de mudança teria cunho idealista e ideológico. O delegado Edson Moreira (PTN), integrante da Comissão de Legislação e Justiça, onde o projeto foi barrado, defendeu que Castelo Branco fez parte ativa da história do Brasil.
Foram necessárias muita paciência, discussão e costura política para a aprovação da matéria, segundo Caixeta. “Eu tentei mostrar para eles (vereadores policiais) que é uma homenagem justa, histórica”, ressaltou. “A mudança do nome é um simbolismo muito grande na história da democracia”, acrescentou o parlamentar. Para que o viaduto receba o novo nome, ainda é necessário que o prefeito Marcio Lacerda (PSB), sancione a proposta. Caixeta disse que vai articular para que isso aconteça até o dia 31.
No dia 1º de abril, a Frente Independente pela Memória e Justiça de Minas está convocando a população para ocupar o viaduto em tributo aos mortos e desaparecidos do regime militar. Durante a manifestação, o elevado receberá uma faixa com o nome de Helena Greco.
Outra modificação no mesmo sentido já foi feita em Belo Horizonte. A Rua Dan Mitrione, no Bairro das Indústrias, passou a se chamar José Carlos da Matta Machado. Mitrione era agente da CIA, que ensinou técnicas de tortura aos militares brasileiros. Já Matta Machado era dirigente de organização de esquerda, foi preso, torturado e assassinado. Se depender do vereador Cabo Júlio (PMDB), os projetos não serão aprovados. “Não tem que obrigar a cidade a compactuar com as ideologias políticas. A cidade tem assuntos mais importantes”, entende ele.