"Não tem ninguém que tenha varinha de condão para dizer agora não, agora este cristal não está quebrado, o cristal quebrou", afirmou em entrevista coletiva, durante o lançamento do portal do Instituto Miguel Arraes, no bairro do Poço da Panela, no Recife.
Para ele, o que existe no País hoje "é mais do que uma crise macroeconômica, é uma crise de confiança e expectativa" que vem da percepção das pessoas, da sociedade, do mercado, de não saber para onde o País está indo, qual o plano de voo.
"As idas e vindas do governo em vários aspectos terminaram por criar essa compreensão", observou. "Pode até o governo chegar e dizer que o projeto é esse e esse, mas as pessoas não percebem, então ao invés de marcar encontro, começa a marcar desencontro".
Campos destacou a importância - e a inexistência - de uma narrativa de longo prazo, que envolve indicação de reformas e regulação de setores estratégicos, para se criar confiança no roteiro a ser trilhado. Moderado, afirmou que os problemas relativos a fundamentos macroeconômicos já foram maiores no passado e que há outras nações com mais problemas do que o Brasil. "Não dá para esconder que há problemas, mas também não dá para dizer que é um caos absoluto", frisou.
"Temos problemas que podem se avolumar na medida em que não se tomem providências, esta é uma questão", pontuou. "A outra é que quem vai resolver isso são as urnas, é a sociedade votando no caminho da mudança".
Ele reafirmou existir um fosso entre o Brasil real e o Brasil de Brasília, onde a sociedade não percebe seus interesses representados, e destacou a necessidade de "animar" a população a participar, diante do risco de desânimo e apatia da sociedade. "A energia que pode mudar o Brasil é justamente essa energia dos que querem uma representação mais próxima".
"A gente está percebendo claramente que as conquistas estão em risco: o governo não conseguiu melhorar o Brasil, que está piorando em vários aspectos, e nós brasileiros não podemos entender que não temos um papel ou que o papel é só do governo", alertou. "O papel é de todos nós".
Instituto Miguel Arraes
O lançamento do portal do Instituto Miguel Arraes ocorreu em um ato pela passagem dos 50 anos do golpe militar de primeiro de abril de 1964 e da deposição do então governador de Pernambuco e avô de Campos, Miguel Arraes, que só deixou o Palácio do Campo das Princesas, preso.
Amigo de Arraes e seu ex-assessor, Ivan Rodrigues fez um relato emocionado relembrando o momento em que o ex-governador disse ao oficial do Exército que ele não tinha autoridade para o depor e que só deixaria o palácio preso.