Brasília – O Planalto já traça a estratégia para enfrentar a oposição na CPI da Petrobras. Ciente de que a missão de convencer senadores e deputados a retirar as assinaturas já protocoladas é quase impossível, os articuladores palacianos estão ligando para os líderes aliados pedindo que indiquem a dedo os integrantes da comissão. O perfil ideal seria “parlamentares dispostos a matar no peito os ataques e a assumir o desgaste perante a opinião pública”. Além disso, o governo trabalha para uma CPI Mista – Câmara e Senado – para tirar o “palanque eleitoral do senador Aécio Neves”, como afirmou um integrante do primeiro escalão do governo.
O senador mineiro acusa o governo de tentar retirar assinaturas. No Senado, os principais alvos são Sérgio Petecão (PSD-AC), Eduardo Amorim (PSC-SE) e Clésio Andrade (PMDB-MG). “Eu conversei pessoalmente com eles e disse: se vocês não se sentirem confortáveis para assinar a CPI, eu vou entender. Eles me garantiram que assinariam”, confidenciou Aécio ao Estado de Minas. “A pressão do governo mostra a covardia e o medo de ter que explicar o que fez com a Petrobras”, completou o senador mineiro.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou ontem que lerá o requerimento de criação da CPI da Petrobras no Senado, ainda que não concorde com ela. “É evidente que uma CPI em ano eleitoral mais atrapalha do que ajuda a vida do Brasil. Mas agora não há mais o que fazer, porque temos o requerimento. Vamos marcar a data para fazer conferência dos nomes e instalar a comissão. Vou combinar com os líderes o melhor calendário”, disse Renan. Na prática, isso significa que o governo tem até a leitura do requerimento para pressionar os aliados. Alguns senadores estavam na conta de aliados do Executivo, mas acabaram apoiando a criação da comissão.
Na provável última visita que fez ao Senado, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, lamentou o avanço da oposição rumo à instalação da CPI. “É do regimento, é da democracia. O que não podemos admitir, de forma especial no caso da Petrobras, é que a questão da disputa eleitoral afete uma investigação que já está ocorrendo (em outros órgãos). É da vida”, disse Ideli, que deverá ser substituída na próxima semana pelo deputado Ricardo Berzoini (PT-SP).
Aécio foi enfático na resposta. “A Petrobras vale metade do que valia no mercado antes de o PT chegar ao governo. Você não recupera esse prejuízo em 10 anos”, criticou o tucano. “A Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) perdeu R$ 15 bilhões em dois dias por causa daquela MP do governo que reduziria o valor da conta de luz”, ironizou o presidenciável tucano.
Por sua vez, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), partiu para a retaliação, ameaçando tentar incluir na pauta da CPI Mista investigações sobre supostos pagamentos de propina a dirigentes tucanos do governo paulista entre 1998 e 2001.