Mantida em segredo pela gerência executiva de Comunicação Institucional da Petrobras, a lista foi obtida pelo Estado via Lei de Acesso à Informação.
As cortesias dão direito a vista privilegiada da pista do Autódromo de Interlagos, além de acesso aos boxes das escuderias, hospedagem em hotel cinco estrelas e buffet de bebidas e comidas durante o GP. Estima-se que o custo unitário dos convites oferecidos pela Petrobras chegue a R$ 12 mil - o ingresso mais caro vendido ao público no ano passado, com benefícios semelhantes, valia R$ 11.200.
Nota da Secretaria de Comunicação Social do governo enviada nessa quinta-feira (27) à noite ao Estado confirma que o genro da presidente “compareceu ao GP Brasil” a convite da Petrobras, desacompanhado da mulher, Paula Rousseff, e afirma que Dilma não sabia do convite. “A presidenta disse que, se tivesse sido (consultada), teria dito para ele não comparecer. Isso porque, embora não exista irregularidade, não vale o incômodo.”
O genro de Dilma trabalha na área trabalhista do escritório de advocacia do sogro - o ex-marido da presidente, Carlos Araújo. Procurado, Cuvolo avisou pela secretária que “não tinha interesse em se manifestar”.
Além do genro de Dilma, o secretário adjunto do gabinete de segurança da Presidência, coronel Artur José Solon Neto, foi convidado pela Petrobras. O oficial confirmou o convite, mas disse não saber por que foi escolhido.
Pedido
Dois filhos de Guido Mantega, que também é presidente do Conselho de Administração da Petrobras, estão na lista de convidados VIP da estatal, assim como um amigo deles.
Procurada, Carolina fez um pedido. “Por favor, eu gostaria que você não escrevesse essa matéria”, disse. Perguntada se ganhou o ingresso do pai, repetiu: “Eu não quero falar sobre isso”. Leonardo não foi localizado.
Os filhos de Mantega levaram um amigo, Felipe Isola. “Eu fui convidado porque gosto de assistir à Fórmula 1. O camarote é minha posição preferida”, afirmou. Quando a reportagem o questionou se tinha algum negócio com a estatal que justificasse a cortesia, Isola disse que a pergunta deveria ser feita à Petrobras. “Não sou da empresa, mas conheço pessoas de lá”, afirmou, sem citar nomes para não ser “deselegante”.
Em nota, Mantega afirmou que “os convites mencionados pela reportagem foram dados pela empresa devido ao fato de o ministro ser conselheiro da companhia, tratando-se de uma prática usual da Petrobras para com seus conselheiros”.
Miriam Belchior é outra ministra e conselheira da Petrobras cujos parentes foram ao camarote. Irmã da ministra, Virgínia confirmou ao Estado ter recebido o ingresso, mas desligou o telefone ao ser perguntada sobre como ganhou o convite.
Por meio de sua assessoria, a ministra afirmou que membros do Conselho de Administração constituem um dos diversos “públicos” de interesse da estatal. “Esse procedimento é praxe por parte de qualquer empresa pública ou privada que patrocina grandes eventos. Não infringe nenhuma norma estabelecida.”
O marido da titular de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o subtenente do Exército Jeferson da Silva Figueiredo, também foi convidado para o camarote VIP. A ministra recebeu o convite, mas afirmou não ter ido ao evento. Figueiredo não quis falar sobre o assunto.
Base
O ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também tem um parente na lista VIP da Petrobras.
O Estado identificou na lista nove deputados federais, um distrital e dois senadores aliados do governo, além de suas mulheres, irmãos, namoradas e filhos. Lá estão o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o senador Gim Argello (PTB-DF), dois dos principais articuladores contra a CPI da Petrobras.
O gabinete de Argello confirmou o uso da credencial, estendida ao irmão e à mulher, mas disse que “não utilizou o serviço de hospedagem a que tinha direito”. Chinaglia não quis comentar. .