Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve ler nesta terça-feira, em plenário, o requerimento de instalação da CPI da Petrobras na Casa, com base nas 29 assinaturas coletadas pela oposição na semana passada. Na Câmara, a oposição já começou a recolher as assinaturas para tentar transformar a CPI dos senadores em colegiado misto. Enquanto isso, o governo bate cabeça na definição de como será a estratégia de enfrentamento. A ideia inicial era ampliar o requerimento para fustigar a oposição, mas o que será incluído ainda não foi decidido. “Conseguimos colocar o bode na sala. Agora, não sabemos que parte do bode queremos explorar”, admitiu um integrante da base aliada.
Na sexta-feira, a proposta era investigar, além da Petrobras, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig); o Porto de Suape e a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; o Metrô de São Paulo; e a gestão do PSB à frente do Ministério de Ciência e Tecnologia. A dificuldade é que a ampliação do foco das investigações pode trazer problemas para o próprio governo. Passar um pente-fino na Cemig para fustigar o pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG), por exemplo, poderia desviar os holofotes para o setor elétrico brasileiro, fragilizado pela gestão Dilma Rousseff.
Os casos da Refinaria Abreu e Lima e do Porto do Suape também podem trazer problemas para os aliados pernambucanos, uma vez que as duas obras têm recursos federais e foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico do estado. “Tem parlamentar cuja base está questionando isso, o que pode refluir no apoio à investigação”, completou outro aliado do Planalto.
A ampliação do escopo da CPI poderá se resumir ao caso Alstom, que apura a suposta existência de cartel de empresas envolvidas com o metrô paulistano. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) está recolhendo as assinaturas – até o início da noite de ontem, já tinha 150 e espera atingir as 171 hoje. “Ainda acho que a melhor estratégia é tentar retirar as assinaturas da CPI da Petrobras”, afirmou ontem o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). “Uma CPI agora, ainda mais sendo ampla, só servirá para dar palco para a oposição em um ano eleitoral”, completou o senador petista.
Articulação
Duas reuniões para discutir a estratégia estavam previstas para a noite de ontem. A primeira, já com a presença do futuro ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT-SP), que assume a articulação política hoje, e os líderes do PT e do PMDB no Congresso. A segunda, com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e a cúpula do PMDB no Senado, incluindo Renan Calheiros.
A oposição também terá hoje um dia importante para definir os próximos passos. A primeira providência será acabar com as vaidades internas, já que ainda há uma divisão de opiniões se o melhor caminho será recolher as novas assinaturas na Câmara ou no Senado. Na semana passada, Aécio Neves já havia defendido buscar reforço entre os deputados. “Já convencemos parte da base a apoiar a CPI. Não podemos correr o risco de fazer isso de novo, deixe que os deputados o façam. Se não der certo, instalaremos a CPI do Senado”, afirmou o presidenciável tucano.
Ingressos
A Comissão de Ética da Presidência da República vai pedir informações aos ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Miriam Belchior, e da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salavatti, que deixa a pasta hoje, sobre a inclusão de parentes na lista de convidados VIP da Petrobras para assistir ao Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Um processo para apurar irregularidades pode ser aberto.