Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve ler nesta terça-feira, em plenário, o requerimento de instalação da CPI da Petrobras na Casa, com base nas 29 assinaturas coletadas pela oposição na semana passada. Na Câmara, a oposição já começou a recolher as assinaturas para tentar transformar a CPI dos senadores em colegiado misto. Enquanto isso, o governo bate cabeça na definição de como será a estratégia de enfrentamento. A ideia inicial era ampliar o requerimento para fustigar a oposição, mas o que será incluído ainda não foi decidido. “Conseguimos colocar o bode na sala. Agora, não sabemos que parte do bode queremos explorar”, admitiu um integrante da base aliada.
Na sexta-feira, a proposta era investigar, além da Petrobras, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig); o Porto de Suape e a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; o Metrô de São Paulo; e a gestão do PSB à frente do Ministério de Ciência e Tecnologia. A dificuldade é que a ampliação do foco das investigações pode trazer problemas para o próprio governo. Passar um pente-fino na Cemig para fustigar o pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG), por exemplo, poderia desviar os holofotes para o setor elétrico brasileiro, fragilizado pela gestão Dilma Rousseff. O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que tem interesses na área, especialmente em Furnas, já avisou que é contra a manobra.
Os casos da Refinaria Abreu e Lima e do Porto do Suape também podem trazer problemas para os aliados pernambucanos, uma vez que as duas obras têm recursos federais e foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico do estado. “Tem parlamentar cuja base está questionando isso, o que pode refluir no apoio à investigação”, completou outro aliado do Planalto.
A ampliação do escopo da CPI poderá se resumir ao caso Alstom, que apura a suposta existência de cartel de empresas envolvidas com o metrô paulistano. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) está recolhendo as assinaturas – até o início da noite de ontem, já tinha 150 e espera atingir as 171 hoje. “Ainda acho que a melhor estratégia é tentar retirar as assinaturas da CPI da Petrobras”, afirmou ontem o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). “Uma CPI agora, ainda mais sendo ampla, só servirá para dar palco para a oposição em um ano eleitoral”, completou o senador petista.
Articulação
Duas reuniões para discutir a estratégia estavam previstas para a noite de ontem. A primeira, já com a presença do futuro ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT-SP), que assume a articulação política hoje, e os líderes do PT e do PMDB no Congresso. A segunda, com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e a cúpula do PMDB no Senado, incluindo Renan Calheiros.
A oposição também terá hoje um dia importante para definir os próximos passos. A primeira providência será acabar com as vaidades internas, já que ainda há uma divisão de opiniões se o melhor caminho será recolher as novas assinaturas na Câmara ou no Senado. Na semana passada, Aécio Neves já havia defendido buscar reforço entre os deputados. “Já convencemos parte da base a apoiar a CPI. Não podemos correr o risco de fazer isso de novo, deixe que os deputados o façam. Se não der certo, instalaremos a CPI do Senado”, afirmou o presidenciável tucano.
Ingressos
A Comissão de Ética da Presidência da República vai pedir informações aos ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Miriam Belchior, e da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salavatti, que deixa a pasta hoje, sobre a inclusão de parentes na lista de convidados VIP da Petrobras para assistir ao Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Um processo para apurar irregularidades pode ser aberto. Na semana passada, o PPS protocolou representação contra eles.