Jornal Estado de Minas

Governo federal faz jogo duplo para minar CPI da Petrobras

Pedido da oposição para investigar a Petrobras é lido no Senado, mas questionamento do governo adia início dos trabalhos. Aliados ainda tentam desviar o foco para o PSDB e PSB

Paulo de Tarso Lyra Amanda Almeida

Líder do PSDB (ao microfone), Aloysio Nunes cobrou o "direito" da minoria à investigação: "Não queiram grilar a nossa CPI", reagiu o senador - Foto: Jose Cruz/ABR


Brasília – Em estratégia para tumultuar a sessão do Senado e ganhar tempo na instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, o governo adotou uma tática diversionista e apresentou nessa terça-feira dois requerimentos, aparentemente contraditórios, no plenário da Casa. O primeiro questiona a CPI proposta pela oposição, com o argumento de falta de fato determinante, o que contraria o regimento da Casa. Paradoxalmente, os governistas propuseram a abertura de uma CPI ainda mais ampla, para investigar também as denúncias de pagamento de propina no Metrô de São Paulo – o que poderia atingir o PSDB do senador Aécio Neves (MG) –, e supostas irregularidades no Porto de Suape e na Refinaria Abreu e Lima, ambos em Pernambuco – para constranger o governador e pré-candidato Eduardo Campos (PSB).

A tática foi tramada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e com o novo ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, empossado na manhã dessa terça-feira. Prometida para esta quarta-feira, a resposta de Renan ao questionamento da base, no entanto, não encerrará a novela. Independentemente do resultado, governo ou oposição poderá recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, ao próprio plenário ou ao Supremo Tribunal Federal.

A instalação da CPI da Petrobras foi lida nessa terça-feira no plenário do Senado. Em seguida, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pôs em prática a manobra do governo.

“Chegamos à inafastável conclusão de que o requerimento de criação da CPI da Petrobras apresenta um conjunto de fatos determinados estanques, desconexos”, disse ela. O requerimento de abertura da CPI da oposição pede a investigação da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas; de indícios de pagamento de propina a funcionários da Petrobras por uma empresa holandesa; de denúncias de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima (PE); e de supostas más condição de trabalho de funcionários da empresas.

Gleisi foi imediatamente rebatida pela oposição. “Para defender a sua posição, a senadora Gleisi chega, inclusive, a condenar o fato de termos, na justificativa, feito críticas ao governo, como se nós devêssemos fazer elogios. Senhora senadora, deixe-nos fazer oposição”, respondeu Aloysio Nunes (PSDB-SP). Gleisi foi contestada ainda por Aécio, pré-candidato do PSDB à Presidência. “O que a oposição faz nesse instante é, única e exclusivamente, cumprir as suas prerrogativas, exercer o seu mandato na plenitude. Seria extremamente condenável se, a partir de fatos determinados de tamanha gravidade, nós não estivéssemos aqui cumprindo a nossa responsabilidade”, disse o tucano.

Na Câmara, o governo presenciou a ressurreição do blocão, que o Planalto julgava extinto após a votação do Marco Civil da Internet. O grupo, composto por aproximadamente 200 deputados, decidiu assinar a CPI. Com isso, a expectativa é que o requerimento atinja mais de 300 nomes. “Não importa quando, mas a Comissão será instalada, o que poderá trazer à tona muito do que está sendo feito com a empresa”, declarou o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE). Ontem, o senador Mário Couto (PSDB-PA) protocolou pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, alegando improbidade administrativa no caso da compra de Pasadena.

Coordenação na crise

A presidente Dilma Rousseff empossou nessa terça-feira Ricardo Berzoini como ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.

Dilma não citou diretamente a CPI da Petrobras, mas deixou claro o que espera dele: “Tenho certeza de que os nossos aliados saberão agir para impedir que motivações meramente eleitorais acabem por atropelar a clareza e esconder a verdade”.

.