Jornal Estado de Minas

Instalação da CPI da Petrobras no Senado continua em banho-maria

Manobra petista dá resultado e Renan transfere para a CCJ a decisão sobre a abertura de investigação da Petrobras

Jorge Macedo - especial para o EM
Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro e André Shalders
Liderados por Aécio (D), parlamentares da oposição entregaram nessa quarta-feira assinaturas para CPI Mista da Petrobras - Foto: Paula Cinquetti/Agência Senado

Brasília – Ao remeter para a Comissão de Constituição e Justiça do Senado a decisão sobre qual com CPI da Petrobras será instalada – a da oposição, mais restrita, ou do governo, mais ampla – o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atendeu aos interesses do Planalto e abriu caminho para que, caso alguma investigação seja aberta no Parlamento, prevaleça a que fustiga PSDB e PSB, além da análise de eventuais desvios na Petrobras.

Revoltado, o pré-candidato do PSDB à presidência da República, senador Aécio Neves (MG), avisou que a oposição vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para assegurar o direito da minoria de criar uma CPI. “A base do governo não quer investigar coisa nenhuma, é uma hipocrisia dizer que há disposição de apurar algo”, disse Aécio.

O tucano também criticou a postura da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), responsável pelo questionamento feito à Mesa Diretora do Senado alegando que a proposta de CPI apresentada pela oposição não teria fato determinado. “A senadora Gleisi Hoffmann está submetendo o Senado, com essa manobra, a uma sessão vergonhosa “, acrescentou Aécio.

Gleisi, que cada vez mais assume o papel de líder do governo no Senado, pediu a palavra e reclamou que “manobra” era uma palavra muito forte. “O que estamos fazendo é um debate de ideias, democrático, com base no regimento interno. Se a oposição quer investigar as coisas, por que não ampliar as investigações sobre o que acontece em São Paulo?”, questionou ela. “Recorrer ao STF é um direito da oposição, mas é lamentável porque, mais uma vez, estaremos judicializando uma questão que é fruto de embate entre governo e oposição no Congresso”, completou a senadora.

Foi um dia de longas reuniões no Senado. Renan, que na terça-feira encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto para afinar os ponteiros, almoçou ontem com a bancada do partido no Senado e, no meio da tarde, reuniu os representantes da oposição para comunicar que rejeitaria os dois questionamentos. Ele fez questão de ligar para Aécio para convidá-lo para a reunião, no gabinete da Presidência da Casa.

O fato de Renan ter “lavado as mãos” sobre qual CPI da Petrobras poderá ser instalada não foi o que mais preocupou os oposicionistas.

Eles desconfiaram da manobra quando Renan afirmou, em plenário, que o Supremo permite que outros fatos sejam acrescidos ao requerimento original de uma CPI. “Ele não nos falou isso na reunião ocorrida na presidência. Significa, na prática, que a CCJ tem dois caminhos: ou sepulta as investigações ou aceita aquela que o governo quer”, alertou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

Comissão Mista

Na Câmara, o assunto CPI também fervilhou. Os deputados concluíram a coleta das assinaturas – 228 – para uma comissão mista para investigar a Petrobras. As assinaturas dos deputados – incluindo a do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) – somam-se às de 30 senadores e foram protocoladas na Mesa Diretora do Senado. Renan Calheiros decidiu que o pedido só será lido na próxima sessão do Congresso, em 15 de abril. Até lá, a base aliada apresentará um outro pedido de CPI mista, também ampliado para denúncias de corrupção em São Paulo e Pernambuco. No Senado, o número mínimo de assinaturas (27) já foi atingido.

Audiência

A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara antecipou para o dia 16 a oitiva do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, responsável pelo relatório no qual o Conselho de Administração da estatal se baseou para a compra da refinaria de Pasadena, em 2006.  Ontem, o advogado dele, Edson Ribeiro, afirmou que os o conselho recebeu com antecedência de 15 dias, o relatório para embasar a compra. O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Thomas Traumann, desmentiu  a informação. 

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