Jornal Estado de Minas

Comissão da Verdade envia às Forças Armadas nomes de torturados e de nove mortos

Lista tem nome de 15 presos políticos e de assassinados em MG, SP, RJ e PE

Daniel Camargos

Delsy Gonçalves de Paula, em sua casa no Coração Eucarístico, mostra a ficha que teve na polícia - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


Para subsidiar as Forças Armadas na apuraração dos excessos cometidos em sete instalações militares durante o período da ditadura (1964-1985), a Comissão Nacional da Verdade (CNV) enviou um documento com uma relação de 15 presos políticos que foram torturados e de nove que foram mortos nesses locais, em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. O documento foi enviado ao ministro da Defesa, Celso Amorim, que repassou aos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Na análise da CNV está comprovado que sete locais foram “palco de graves violações de direitos humanos”.

O relatório aponta que em Belo Horizonte, no Quartel de 12º Regimento de Infantaria, foram presos e torturados José Antônio Gonçalvez Duarte, Clodesmidt Riani e Delsy Gonçalves de Paula. Em fevereiro de 2012, o Estado de Minas entrevistou Sissi, como Delsy é conhecida. Ela lembrou detalhes tenebrosos de quando foi torturada. “Não foi brincadeira. Eu resisti 45 dias e isso não é bolinho. Foram 45 dias de pauleira”, recorda.
Sissi lembra de ter ficado nua em frente “a não sei quantos policiais” e ter apanhado nas costas com a parte de metal de um cinto. “Entrei lá com 61kg e cheguei a 49kg, em menos de 10 dias”, recorda.

A ex-militante da Ação Popular (AP) se aposentou recentemente depois de ser professora de ciências políticas na PUC Minas e lembra que quando saiu da prisão dividiu apartamento com a atual ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, colega de militância. Só depois de décadas Sissi diz ser capaz de relembrar desse período. “Estava tudo amarrado dentro de mim”, afirmou.

Clodesmidt Riani foi líder sindical e deputado estadual e um dos três parlamentares com o mandato cassado, em abril de 1964. Riani foi preso na Penitenciária de Ribeirão das Neves, mas foi transferido para o 12º RI, onde foi torturado e testemunhou a tortura de outros presos políticos. “Fui tirado da cela e levado para uma sala, recebendo agressão verbal de toda a maneira: gritos, xingamentos, e diziam que eu deveria ter sido mandado para São Paulo, pois o governador Adhemar de Barros já teria mandado jogar no mar muitos comunistas, e outros impropérios”, recorda o deputado no relatório da CNV. Riani também declara que os outros dois parlamentares cassados (Sinval Bambirra e Dazinho) foram torturados e que ele escutou os gritos deles.

Já José Antônio Gonçalves Duarte foi preso em 3 de julho de 1969, na capital mineira, e conduzido ao 12RI. No relatório está escrito que: “Foi torturado e espancado pelo encarregado do Inquérito capitão João Alcantara Gomes, pelo escrivão do mesmo inquérito, Marcelo Araújo, por um cabo de nome Dirceu e por um aluno do Colégio Militar, cujo nome o interrogado não se lembra, e por um policial da Delegacia de Furtos e Roubos, de nome Pereira”. As conclusões da CNV sobre esses casos tiveram como base depoimentos, documentos oficiais e processos dos arquivos da Comissão da Anistia e da Comissão de Mortos e de Desaparecidos Políticos.

Outros locais


No Rio de Janeiro, são citados a 1ª Companhia de Polícia do Exército da Vila Militar – onde teria sido torturado Antônio Roberto Espinosa e morto Chael Schreier –, o Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI/1ºEx) – local de tortura de Gildásio Consenza, Fernando Palha Freire e Newton Leão Duarte e onde foi morto, após tortura, Mário Alves –, a Base Naval Ilha das Flores – onde foram torturados Marta Maria Klagsbrunn e João Manoel Fernandes – e a Base Aérea do Galeão – nela foram presos e torturados Alex Polari de Alverga, José Roberto Gonçalves Rezende, Adir Figueira e José Bezerra da Silva e ali teria sido morto Stuart Angel.

Em São Paulo, a CNV listou o Destacamento de Operações de Informações do 2º Exército (DOI/2ºEx) como o centro repressão. Ali foram presos e torturados Darci Miyaki e George Duque Estrada e mortos Joaquim Alencar de Seixas, Hélcio Pereira Fortes, Antônio Benetazzo e Arnaldo Cardoso Rocha. No Recife, o Destacamento de Operações de Informações do 4º Exército (DOI/4ºEx) é apontado como local de morte de José Carlos Novaes da Mata Machado e Gildo Macedo Lacerda.

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