Christopher Goulart, que é suplente de vereador pelo PDT em Porto Alegre (RS), disse que a luta da família agora é manter o interesse político pelo esclarecimentos da morte de seu avô, já que os meios para isso foram viabilizados. Ele conta que desde a exumação tem feito uma verdadeira peregrinação pelos órgãos envolvidos no trabalho de apuração das circunstâncias da morte de João Goulart. “Nos próximos dias, vou pedir uma reunião com a nova secretária de Direitos Humanos, Ideli Salvatti (PT-SC), para tratar do assunto e solicitar mais agilidade no envio do material para perícia. Na semana passada, estive no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal para acompanhar os trabalhos”, disse Goulart, que espera que o prazo de um ano seja suficiente para esclarecer se a morte do avô foi mais um crime cometido no período de exceção de direitos.
“Enfermedad” João Goulart morreu em 1976 no exílio, em sua casa em Mercedes, na Argentina.
Apesar de ser bem equipado, o Instituto de Criminalística da Polícia Federal brasileira não dispõe de meios para testar algumas substâncias que poderiam ter causado a morte de Jango. Entre elas estão o Isodril e Adelfan – consumidos para tratar a cardiopatia do ex-presidente –, além de substâncias que podem levar à morte, como cloreto de potássio, clorofórmio e escopolamina.
Os restos mortais do presidente João Goulart foram exumados em 13 de novembro, em São Borja (RS), sua cidade natal, e transladado para Brasília, onde foi recebido com honras militares, em cerimônia que contou com a presença dos últimos cinco presidentes: José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff.
Quatro perguntas para...
MARIA THEREZA GOULART - Viúva do ex-presidente João Goulart
O presidente demonstrava preocupação com uma possível deposição do governo?
Era uma época difícil. O Jango estava cercado de pessoas e políticos bons, mas o clima era de tensão, os partidos não se entendiam. Queriam que ele realizasse coisas que dependiam de aprovação do Congresso por risco e conta própria, mas ele era um homem muito cauteloso e sabia de suas responsabilidades. Acho que, no fim, ele sabia que estava sozinho e que o desfecho era uma coisa iminente. Preferiu seguir com suas convicções a ceder diante das exigências da direita e da esquerda.
Jango demonstrou alguma frustração por ter sido traído por alguém da sua confiança?
Ocorreram inúmeras traições de pessoas que ele havia eleito, cujas carreiras políticas ele havia ajudado a construir, de pessoas que havia ajudado e ficaram ao lado da ditadura. Ele sentia muita mágoa dessas pessoas, inclusive algumas que encontrou posteriormente no exílio e tinham vergonha de vê-lo, de atravessar uma rua para cumprimentá-lo, pois tinham vergonha de suas próprias atitudes.
Existe alguma coisa deixada para trás, depois que foi deflagrado o golpe, que tinha um significado especial e que a senhora ainda gostaria de reaver?
Deixamos bens, quadros, joias, carros etc. Mas isso não é mais importante do que as pessoas em nossa família, como meu pai e minha mãe, de quem nem sequer pude despedir-me em suas mortes. Fui presa em São Borja para ver meu pai. Mas é triste sim. No casamento de meu irmão, no Rio, vi uma joia minha, um colar no pescoço de uma senhora casada com um militar.
Com os 50 anos do golpe, o que lhe passa pela cabeça?
Quero agradecer a Deus por me permitir estar ainda aqui presenciando este grande momento de reflexão que está se dando no Brasil com a figura de Jango. Ele merecia esse reconhecimento, e, onde quer que ele esteja, estará feliz, pois a história está lhe dando o reconhecimento devido. O Brasil que ele tanto amou está refletindo seu governo em prol dos menos favorecidos. Acho que esta é para mim a grande recompensa. Jango acordou novamente para o Brasil.
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