Outro entrave diz respeito à transparência das instituições.
O problema da falta de transparência se repete em diversas câmaras municipais. “Até mesmo a prestação de contas anual, que deveria ser entregue à Secretaria do Tesouro Nacional (STN), algumas dessas casas legislativas deixam de fazer. E olha que isso é previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. O Legislativo, especialmente nos estados e nos municípios, fica muito aquém do Executivo no que diz respeito à transparência das informações”, comenta o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas. “O cidadão que tentar fiscalizar gastos e realizar o controle social sobre o Legislativo, especialmente nos municípios, provavelmente sairá frustrado, porque é uma missão impossível. Quer dizer, é um custo muito elevado, como mostrado, e o mínimo que se espera é que esses órgãos prestem contas”, completa ele.
A tendência de aumento nos gastos verificada no Congresso Nacional é seguida de perto pelas assembleias e pela CLDF. Entre 2010 e 2013, o volume de recursos consumidos pelos parlamentos estaduais e distrital saltou de R$ 9,39 bilhões (em valores atuais, corrigidos pelo IPCA) para R$ 12,66 bilhões (veja quadro). Em geral, as despesas variam de acordo com o tamanho da população de cada estado, já que o cálculo do número de representantes no Legislativo se baseia nesse dado. As unidades da Federação cujas assembleias legislativas apresentam os maiores gastos em 2013 foram Rio de Janeiro, com R$ 1,089 bilhão; São Paulo, com R$ 1,08 bilhão; e Minas Gerais, com R$ 1,034 bilhão.
Poder loteado
Segundo o especialista em orçamento Cláudio Abramo, fundador da ONG Transparência Brasil, a inoperância do Legislativo brasileiro constitui uma “doença institucional grave”. “É como se nós pagássemos por um Porsche e levássemos um Fusca usado”, compara.
“Além de gastar muito, os parlamentos não cumprem as principais funções: fiscalizar o Poder Executivo, nos três níveis, e representar os interesses da população. Isso ocorre porque há uma concentração de poder nas mãos do Executivo, que loteia a administração para os partidos políticos e compra a lealdade da maioria dos parlamentares. E o preço cobrado é justamente que esses parlamentares não fiscalizem o Executivo como deveriam”, diz o especialista.
.