Na avaliação do PSDB, que recentemente lançou o portal www.mineirobrasileiroaecio.com.br, projetado para ser a plataforma de convergência das mídias digitais da campanha do senador mineiro, há um contingente de cerca de 30 a 40 milhões de brasileiros nas redes sociais que não estão vinculados ou não gostam de política. Xico Graziano, responsável pela área de internet da campanha tucana nessas eleições, diz que o desafio é transformar a estratégia digital em votos, inserindo no mundo político essas pessoas que reivindicam mudanças e transformações no País. "As pessoas querem participar do destino do Brasil e não conseguem, o desafio é atingir esses jovens insatisfeitos que não se dispõem a participar do projeto político."
E as redes sociais são a aposta dos partidos para o diálogo com esses eleitores. Um dos casos bem sucedidos nesse campo, lembrados na pré-campanha deste ano até pelos opositores, é o da ex-senadora Marina Silva na eleição presidencial de 2010. Naquele pleito, com pouco mais de um minuto no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, Marina obteve cerca de 20 milhões de votos. O então o coordenador de Mídia Digital da campanha de Marina, Caio Túlio Costa, reconheceu que a internet teve papel decisivo na performance da candidata e representou o maior diferencial naquela campanha presidencial, pois foi uma ferramenta imprescindível na disseminação de suas ideias, com papel estratégico na composição do volume expressivo de votos que a ex-senadora teve no primeiro turno.
O PT é um dos partidos que investem firme nessa área e, na semana passada, anunciou um evento dedicado a treinar a militância do partido, sem estar oficialmente relacionado às eleições.
Gatilho
Antes canais de mero apoio para as estratégias de comunicação dos partidos, redes como Facebook, Twitter e blogs passam a contar nesta campanha com iniciativas próprias, envolvendo principalmente futuros candidatos a disputas majoritárias e configurando a tendência. Para Mauro de Lima, as manifestações de rua de 2013 foram um gatilho importante, bem como os chamados "rolezinhos" . Referências que também foram apontadas pelo cientista político e professor do Insper, Humberto Dantas. "É uma tendência, inclusive porque o Brasil parou via internet em 2013 e os políticos querem saber como pensam essas pessoas (que se manifestaram nas ruas)", disse Dantas.
O presidenciável Eduardo Campos tem usado o microblogging do Twitter para dar entrevistas abertas aos internautas. Com a hashtag #EduardoResponde, o pessebista falou, no dia 7 de fevereiro, sobre propostas para saúde, política de incentivo à indústria e combate à corrupção, entre outros temas. E apesar de ter a ex-senadora Marina Silva ao seu lado neste pleito - ela deve ser vice em sua chapa majoritária - um dos principais colaboradores da ex-senadora na área da internet, Maurício Bruzadin, foi escalado para trabalhar com os tucanos nessas eleições.
Dilma
A própria presidente Dilma Rousseff já tinha usado recurso semelhante ao de Campos no ano passado, porém de forma mais reservada. Dilma cedeu a entrevista via Twitter somente à personagem "Dilma Bolada", paródia criada por Jeferson Monteiro e que ganhou fama com posições simpáticas ao governo da presidente. Monteiro e Dilma tuitaram lado a lado, por cerca de uma hora no Palácio do Planalto, no dia 27 de setembro. À época, a entrevista trouxe críticas da presidente à reportagem da revista "The Economist" que atacou a economia brasileira. Falou ainda da espionagem norte-americana e de programas do governo, como o Mais Médicos.
Apesar de toda essa movimentação, os especialistas ressaltam que é importante ter consciência de que a estratégia digital na campanha brasileira é ainda algo muito incipiente no Brasil, pois as redes sociais são ainda um meio novo na política mundial. "É um território de incertezas e precisamos lembrar que importamos a ideia (dos EUA), mas não importamos os eleitores", disse Humberto Dantas. Mauro de Lima também ressalva que o movimento de estratégias elaboradas para as redes ainda é fraco no País. "Quando falamos em estratégia de comunicação política para redes sociais, candidatos no Brasil ainda estão engatinhando, ainda está muito desorganizado". (Colaborou Elizabeth Lopes).