Brasília – Cruzamento de dados com base no relatório da Operação Lava a Jato aponta uma relação direta entre o Deltaduto, canal de financiamento de campanhas políticas a partir de repasses milionários de recursos da construtora Delta para empresas de fachada, identificadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, e o doleiro Alberto Youssef. As empresas JSM Engenharia e Terraplenagem e Rock Star Marketing Ltda., sediadas em Santana do Parnaíba (SP), que receberam juntas R$ 49,1 milhões do esquema comandado pelo empresário Fernando Cavendish, da Delta, e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, repassaram R$ 1,5 milhão na mesma época para a MO Consultoria. De acordo com a investigação da Lava a Jato, a suspeita é de que a MO Consultoria seja uma firma fictícia utilizada por Youssef, ligado ao deputado André Vargas (PT-PR), como uma central de recursos para pagamentos de propina a servidores públicos e a políticos. Youssef está preso em Curitiba.
O inquérito da Polícia Federal mostra que a Rock Star repassou, em junho e julho de 2010, pouco antes do início da campanha eleitoral daquele ano, R$ 1,2 milhão para a MO Consultoria. Em 2007, a empresa recebeu R$ 2,38 milhões da Delta e R$ 7 milhões no ano seguinte. Grande parte do repasse para a MO Consultoria, segundo laudo da PF, foi feito por meio de transações eletrônicas em curto espaço de tempo, com valores próximos de R$ 100 mil. A maior transferência, de R$ 160 mil, foi realizada em 18 de junho de 2010.
A CPI do Cachoeira apontou a injeção de R$ 421 milhões nas empresas fantasmas identificadas após o desencadeamento da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão de Cachoeira em fevereiro de 2012. Na época, as investigações constataram que boa parte do dinheiro proveniente da Delta foi sacado na boca do caixa por laranjas, em junho, em setembro e em outubro de 2010, antes da disputa eleitoral.
Na tabela da Polícia Federal, constante nos autos da Lava a Jato, a remessa de R$ 300 mil – em quatro parcelas de R$ 75 mil – para a MO Consultoria foi realizada em 20 de julho por meio de transações eletrônicas. A JSM e a Rock Star não estavam no grupo de seis empresas fantasmas identificadas entre um total de 18 que tiveram os sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados a pedido dos parlamentares. As duas só apareceram na investigação em razão da quebra do sigilo da Delta.
No entanto, após o relatório final da CPI, a oposição encaminhou um documento complementar à Procuradoria Geral da República (PGR) apontando as duas empresas como suspeitas e solicitando aprofundamento da investigação. O relatório dizia que a Rock Star e a JSM tiveram sócios em comum.
A reportagem tentou entrar em contato com as empresas, mas não obteve sucesso. De acordo com a investigação da Polícia Federal, entre 2009 e 2013, o caixa da MO Consultoria recebeu R$ 90 milhões. O jornal Folha de S.Paulo revelou que nove fornecedores da Petrobras depositaram R$ 34,7 milhões na conta da consultoria de fachada. A confissão de que a empresa não tem atividade, segundo o jornal, foi feita por um funcionário de Alberto Youssef: Waldomiro de Oliveira, em nome de quem a MO Consultoria está registrada na Junta Comercial de São Paulo.
Movimentação no exterior
Em agosto de 2012, reportagem revelou que documentos sigilosos apontavam que a Delta, pivô do escândalo, transferiu R$ 85,34 milhões apenas em 2011 para contas nas Ilhas Cayman, famoso paraíso fiscal no Caribe, ao Sul de Cuba. Os dados apontavam três grandes remessas. O primeiro repasse ocorreu em 28 de março de 2011. A empreiteira enviou R$ 40 milhões para uma conta do Banco Safra.
Na CPI do Cachoeira, o dono da empreiteira, Fernando Cavendish, ficou calado e foi dispensado imediatamente. Ele estava amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Cachoeira foi condenado a 39 anos de prisão pelos crimes de peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha. As acusações são relativas à Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. A Justiça do Distrito Federal condenou o contraventor a cinco anos de prisão em regime semiaberto. A sentença é decorrente da Operação Saint Michel, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal e que investigou tentativas de fraudes no sistema de bilhetagem do transporte público do Distrito Federal.
PF solicita segurança máxima
A Polícia Federal pediu ontem a transferência dos doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater para o presídio federal de Catanduvas (PR), considerado de segurança máxima. No pedido, a PF argumenta que a carceragem de sua superintendência é inadequada para os presos e que não oferece segurança. Foi esse presídio que abrigou o megatraficante Fernandinho Beira-Mar.
Youssef foi preso no âmbito da Operação Lava a Jato, sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões. Chater, acusado de movimentar o mercado paralelo de Brasília, era um dos contatos de Youssef, segundo as investigações da PF.
O advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto, que defende Youssef, disse que o pedido "é absurdo": "Eles não são criminosos de alta periculosidade para ir para um presídio de segurança máxima. Parece retaliação contra o meu cliente. É uma medida desnecessária e abusiva".
Para a Polícia Federal, todos os presos da operação devem ser transferidos para presídios estaduais e federais no Paraná. Entre eles está o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa. A solicitação ainda precisa ser analisada pela Justiça. Segundo a PF, esse é o segundo pedido para a transferência de presos que estavam na carceragem da Superintendência em Curitiba.
Inicialmente, a polícia solicitou ao Judiciário que enviasse todos os presos para Catanduvas, mas, entre eles, há uma mulher e a Penitenciária Federal não poderia abriga-la.
A Operação Lava a Jato foi deflagrada pela Polícia Federal para apurar lavagem de dinheiro em vários estados do país. Segundo as investigações, Youssef comandava um esquema de evasão de divisas que movimentou, ilegalmente, cerca de R$ 10 bilhões. Já o ex-diretor da Petrobras foi indiciado por ter supostamente favorecido o doleiro em uma negociação com a empresa. Conforme a investigação, ele teria ajudado Youssef a conseguir um contrato de mais de R$ 200 milhões com a estatal, usando uma empresa de fachada..