Jornal Estado de Minas

Operação Lava a Jato da PF atinge alvo mais temido pelo governo federal: a Petrobras

Agentes vão à sede da estatal e recolhem contrato de R$ 443 milhões para aluguel de equipamentos suspeito de ter sido assinado com a intermediação de ex-diretor preso

João Valadares
Sede da Petrobras, onde policiais federais receberam documentos diretamente da presidente da empresa: investida amplia a crise - Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Brasília – Iniciada no fim de março para desmontar uma organização criminosa com atuação de doleiros que movimentou R$ 10 bilhões, a Operação Lava a Jato da Polícia Federal atingiu nessa sexta-feira o alvo mais temido pelo governo federal: a Petrobras. Em ano de campanha presidencial e com a maratona governista para impedir a investigação no Congresso, a investida da PF amplia a crise. Um delegado e três agentes estiveram na sede da estatal, no Rio de Janeiro, e recolheram um contrato suspeito de ter sido assinado com a intermediação do ex-diretor Paulo Roberto da Costa, preso na primeira fase da operação. O principal foco é o negócio no valor de R$ 443 milhões realizado com a empresa Ecoglobal – Ambiental Comércio e Serviços Ltda, com sede em Macaé (RJ), e sua filial, EcoGlobal Overseas (EUA), para aluguel de equipamentos pesados.

Na operação dessa sexta-feira, foram cumpridos 16 mandados de busca, quatro de condução coercitiva e um de prisão temporária. Além do Rio de Janeiro, os agentes estiveram em São Paulo, Campinas e Macaé. Com base em documentos apreendidos na primeira fase da Lava a Jato, a PF suspeita de que, após intermediar a negociação, Paulo Roberto, que atua em conjunto com o doleiro Alberto Youssef, conseguiria, por meio de uma operação fraudulenta, comprar 75% das cotas da companhia. Participariam do negócio lucrativo três empresas: Quality Holding, Sunset Global Participações e a Tino Real Participações.

A Polícia Federal apreendeu documentos que apontavam que as cotas da empresa seriam compradas por um valor muito baixo, aproximadamente R$ 18 milhões, para uma empresa que havia firmado um contrato de mais de R$ 400 milhões.
Outro ponto que levantou suspeita foi o fato de que a comercialização das cotas societárias estava atrelada ao fechamento do contrato entre a Ecoglobal e a Petrobras.

O empresário Vladimir Magalhães da Silveira, dono da Ecoglobal, foi detido e encaminhado à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele negou que tenha firmado qualquer negócio com o doleiro Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto. Afirmou que não conhecia os dois e disse que, no ano passado, foi procurado por intermediários da dupla mas não fechou o negócio porque descobriu a participação de Youssef.

Em entrevista ao site da Veja, ele contou detalhes de como seria a negociação. “Disseram (os intermediários) que falavam em nome da Quality e do Paulo Roberto Costa. Quando vi no Google o que era a Quality, apareceu o nome do Youssef e imediatamente eu me levantei. Disse que não fazia negócio com pessoas com o ‘pedigree’ desse Youssef”, alegou Silveira.

Em 2009, a Ecoglobal assinou um contrato de R$ 9,5 milhões com a estatal para recuperação de efluentes. Um ano depois, firmou mais um no valor de R$ 4,8 milhões. Um doleiro ligado ao grupo de Youssef foi preso na operação de ontem. Um casal amigo do doleiro e de Paulo Roberto prestou depoimento e foi liberado.

À tarde, a Petrobras divulgou nota afirmando que contribuiu com a investigação. "A Petrobras recebeu hoje e cumpriu imediatamente ordem Judicial para entregar documentação referente a uma específica contratação. Um delegado e três agentes da Polícia Federal foram recebidos pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster, em uma sala de reunião.
Imediatamente, a presidente acionou a gerência jurídica da companhia para tomar todas as providências com vistas ao cumprimento da ordem judicial", ressaltou o texto.

Fornecedores
Relatórios da Lava a Jato apontam que nove fornecedores da Petrobras depositaram R$ 34,7 milhões na conta da MO Consultoria, uma espécie de central de recursos operada por Youssef para pagamento de propinas a servidores públicos e políticos. Uma das empresas que depositou, no valor de R$ 1,9 milhão, é a Jaraguá Equipamentos, responsável pela reconstrução da torre de lançamentos de foguetes em Alcântara, no Maranhão. A empresa alega que “não foi acionada pela PF até o momento e que, por isso, não teve a oportunidade de esclarecer e provar que nunca participou de nenhum esquema ilícito”.

 A Jaraguá doou R$ 4 milhões ao PT. A empresa afirmou que as doações foram feitas de maneira transparente e legal. Ressaltou também que os pagamentos referentes à Base de Alcântara, no valor de R$ 41 milhões, foram feitos de acordo com o cronograma de reconstrução da base, como estava contratualmente definido. “A Jaraguá não tem conhecimento de que a empresa (MO Consultoria) seja de fachada, nem tem autoridade legal para ter feito esta verificação”, alega.

Escuta na cela de Youssef
A Polícia Federal negou ontem, por meio de nota, que tenha instalado uma escuta telefônica ilegal na cela da superintendência da corporação em Curitiba, onde o doleiro Alberto Youssef está preso. Na quinta-feira, a defesa do acusado acionou a Justiça Federal para que o caso fosse apurado. “A Polícia Federal, em 10 de abril, às 17h, em revista de rotina às celas da carceragem da Superintendência Regional no Paraná, encontrou um equipamento eletrônico estranho àquele ambiente. O dispositivo foi apreendido e passará por perícia técnica para se identificar a natureza da peça”, diz a nota da PF.


Barril de pólvora

Entenda a sequência de denúncias que atingem o governo, o PT e a Petrobras


Pasadena
l 19 de março – Reportagem do Jornal O Estado de S.Paulo aponta que a presidente Dilma Rousseff aprovou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006, quando ainda chefiava a Casa Civil. A petista alega que se baseou em um relatório incompleto feito pelo então diretor da estatal Nestor Cerveró. O Conselho de Administração da Petrobras, na época presidido por Dilma, autorizou a compra de metade da refinaria por US$ 360 milhões. Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, a estatal brasileira foi obrigada a ficar com 100% de Pasadena, antes compartilhada com uma empresa belga. Acabou desembolsando US$ 1,18 bilhão, cerca de R$ 2,76 bilhões.

Lava a Jato
l 20 de março – A Polícia Federal prende, no Rio de Janeiro, durante a Operação Lava a Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa e, em Curitiba, o doleiro Alberto Youssef. A PF cumpre 24 mandados de prisão, além de apreender documentação, veículos, obras de arte e joias em 17 cidades de seis estados e no Distrito Federal. Entre os presos, também estava o ex-sócio da Bônus-Banval Enivaldo Quadrado, condenado por envolvimento no mensalão.

André Vargas
l 1° de abril – Reportagem da Folha de S.Paulo revela que o doleiro Alberto Youssef disponibilizou um avião para que o deputado André Vargas (PT-PR), até então vice-presidente da Câmara, viajasse de férias com a família, em janeiro, para João Pessoa, na Paraíba. Dois dias depois, na tribuna da Câmara, Vargas disse que a relação dele com o doleiro era superficial. Entretanto, diálogos entre os dois, interceptados pela PF e publicados na imprensa, apontam que a dupla atua em conjunto.

Conexão Cachoeira
l Sexta-feira – O Estado de Minas revela, com base nos dados da operação Lava a Jato, conexão entre o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira e do doleiro Alberto Youssef. Duas empresas que receberam R$ 49 milhões do esquema de corrupção para abastecer campanhas políticas, que tinha a construtora Delta no centro, repassaram recursos à MO Consultoria, suspeita de ser utilizada por Youssef para o pagamento de propinas.

Lava a Jato 2
l Ontem – A PF desencadeou a segunda etapa da Operação Lava a Jato. Agora, o foco da ação, que teve origem para apurar uma organização criminosa que movimentou R$ 10 bilhões com a participação de doleiros, é a Petrobras. Agentes apreenderam contratos firmados entre a estatal e outras empresas que teriam sido intermediados por Paulo Roberto da Costa..