Jornal Estado de Minas

Deputado Pinduca mantém 13 clínicas de fisioterapia sem registro na Grande BH

Deputado que ficou inelegível por prestar serviço de ambulância a eleitores agora ataca com 13 clínicas de fisioterapia, nenhuma com registro no conselho da categoria

Alessandra Mello
Clínica de fisioterapia do deputado Pinduca, no Bairro Teresópolis, em Betim, com a ambulância na porta e o anúncio na parede de uma casa da região - Foto: (Alessandra Mello/EM/D.A PRESS)

Inelegível por causa de festas que organizava e serviços de ambulância que prestava para os eleitores em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o deputado estadual Pedro Ivo, conhecido como Pinduca Ferreira (PP), continua transportando a população carente do município. Agora com um atrativo a mais: clínica de fisioterapia e ginástica laboral com transporte grátis. O serviço já extrapola os limites da cidade, sua principal base eleitoral. Ao todo, ele mantém 13 clínicas em cinco cidades das regiões metropolitana de BH e Central do estado. As clínicas são administradas pela Associação dos Moradores dos Bairros Santa Cruz, Vila Cemig e Vila Jatai, fundada pelo parlamentar em 2009, conhecida pelo nome fantasia de Associação dos Moradores do PTB. Nenhuma delas tem registro no Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional em Minas Gerais (Crefito-MG) e muitas operam com estagiários em início do curso, sem a supervisão de um profissional formado, prática vedada pela legislação em vigor.

A associação recruta, por meio de páginas de emprego na internet, estagiários a partir do terceiro período de curso, contrariando as resoluções do Crefito, que só admitem contratações a partir do oitavo período. Em novembro do ano passado, a remuneração era de R$ 678 para seis horas e R$ 454, mais ajuda de custo, para quatro horas.

A reportagem esteve em uma dessas clínicas, no Bairro Citrolândia, periferia de Betim, e no momento da visita não havia nenhum profissional diplomado. Só estagiárias. Segundo funcionários, a fisioterapeuta tinha ido embora mais cedo. Além disso, ela não cumpre a regra do conselho que determina que, para ter dois estagiários, as clínicas têm de ter pelo menos seis profissionais formados.

Todas estampam nas placas o slogan do deputado –“O trabalho não pode parar” –, que pretende lançar um parente para disputar sua vaga na Assembleia, já que ele está impedido porque foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Os funcionários também andam uniformizados com camisetas da associação que repetem o mesmo bordão. O parlamentar aproveita as inaugurações das clínicas para fazer festas, com direito a rua do lazer, e brindes para a criançada e discursos. A clínica mais recente foi inaugurada em Contagem, no Bairro São Luiz, no mês passado. O deputado tem pelo menos sete ambulâncias que rodam em Betim e Contagem para transporte dos pacientes, algumas são fiorinos doadas pelo governo do estado. Outras são kombis. Para utilizar o serviço, basta fazer a inscrição em uma das unidades e apresentar um laudo médico.

Em Betim, as clínicas de fisioterapia com transporte atendem principalmente na região do PTB, que é comandada pela filha do parlamentar, Ciene Ferreira (PP), administradora da regional. Além disso, a responsável na Receita Federal pela associação, Laurenice dos Anjos Rodrigues, trabalhava até março no gabinete da Secretaria de Adminsitração da Prefeitura de Betim. Apesar de não figurar na Receita como responsável pela gestão da organização não governamental, o endereço e o telefone dela constam da página de divulgação do deputado no site da Assembleia. Todas funcionam em grandes galpões ou lojas, localizadas nas principais ruas e avenidas dos bairros.
No interior estão espalhados colchonetes, mesas de ferro, pesos feitos de garrafas pet, bastões de madeira e outros equipamentos.

Sem investigação

Questionada se as clínicas têm alvará de funcionamento, a prefeitura informou que é preciso o endereço de cada uma delas para verificar a existência da licença. Disse também precisar dessa informação para verificar se há algum tipo de convênio com a prefeitura. O Ministério Público, responsável pelo inquérito que redundou na cassação de Pinduca, informou, por meio da assessoria de comunicação, que não há nenhuma apuração em andamento sobre as clínicas de fisioterapia com transporte gratuito. A reportagem tentou falar com Vânia Elias, responsável pela coordenação e contratação nas clínicas de fisioterapia, mas ela não retornou o pedido de entrevista. Ninguém na associação soube informar de onde vêm os recursos para a manutenção das clínicas. O parlamentar não foi localizado em seu gabinete e nem em seu celular. Também não retornou os recados deixados em seu gabinete.

Memória: candidatura impugnada

Pinduca tentou disputar, em 2012, o cargo de vice-prefeito de Betim, mas teve o registro de sua candidatura impugnado pela Lei da Ficha Limpa. O motivo foram as festas e ambulâncias usadas pelo parlamentar para transportar a população. Na época da condenação pela Justiça Eleitoral mineira, confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a juíza relatora do caso, Mariza Porto, disse que o serviço de ambulância oferecido por Pinduca era “uma propaganda eleitoral permanente.” Além dele, foi cassado o filho do deputado, Leo do Pinduca, que na época era pré-candidato ao cargo de vereador em Betim.

Na disputa deste ano, Pinduca deve lançar sua mulher, Sônia do Pinduca (PP), para sua vaga na Assembleia. Em 2010, com medo de ficar fora da disputa, ele lançou sua mulher para o cargo, mas acabou conseguindo autorização para disputar por causa da decisão do Supremo Tribunal Eleitoral que entendeu que a Lei da Ficha Limpa não podia valer para o mesmo ano em que foi aprovada. 

 

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