Juliana Ferreira
A volta do deputado André Vargas (PT-PR) à Câmara após a semana santa não preocupa o Conselho de Ética, que investiga as relações do parlamentar com o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava a Jato, da Polícia Federal, suspeito de participação em um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras. Relator do caso que apura se Vargas cometeu quebra de decoro parlamentar, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou ontem que o petista ter desistido da licença de 60 dias não atrapalhará seu trabalho. Pelo contrário. Delgado disse que “a presença dele pode até ajudar a comissão a elucidar pontos que ainda estão na névoa”. “Acho que ele está voltando para fazer sua defesa e temos que respeitar isso. Nós vamos continuar nosso trabalho”, completou. O relator apresentará na próxima segunda-feira um parecer para votação de admissibilidade do processo, que só começará a tramitar se aprovado pelo conselho. “Há indícios de quebra de decoro e elementos suficientes para sustentar a investigação.”
O processo contra Vargas foi aberto após uma representação feita pela oposição. PSDB, DEM e PPS pedem que ele seja investigado por ter usado um jatinho alugado pelo doleiro Youssef. O deputado era vice-presidente da Câmara e renunciou ao cargo, além de anunciar afastamento de dois meses do mandato. No entanto, na última sexta-feira, mudou de posição e postou em uma rede social que se “defenderá de cabeça erguida”. Em entrevistas após a mudança de postura, afirmou que provará sua inocência. “A verdade prevalecerá. Ainda não tive o direito à defesa, mas, adianto, vou exercê-lo na plenitude. A casa vai cair para alguns”, alertou o deputado, que volta à Câmara no dia da votação no Conselho de Ética.
Até lá, a expectativa é que o plenário do Senado já tenha se pronunciado sobre a instalação de uma CPI exclusiva da Petrobras, o que está marcado para amanhã. A Operação Lava a Jato investiga lavagem de dinheiro em diversos estados do Brasil. Segundo a Polícia Federal, Youssef comandou um esquema que movimentou R$ 10 bilhões. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa também foi indiciado sob suspeita de ter favorecido o doleiro em uma negociação, auxiliando em um contrato de R$ 200 milhões com a estatal por meio de uma empresa de fachada.
Esclarecimentos
A presidente da Petrobras, Graça Foster, confirmou que irá ao Senado amanhã para falar sobre as denúncias que envolvem a estatal, como a polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Ela responderá a questionamentos em uma audiência pública em conjunto das comissões de Assuntos Econômicos, do Meio Ambiente, de Defesa do Consumidor e de Fiscalização e Controle. Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que Foster demonstrou interesse em prestar esclarecimentos. “Tomei a iniciativa de organizar a audiência depois de falar com a presidente da Petrobras, que manifestou a vontade de conversar com os senadores", informou.