"Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém. Quer dizer, não há nenhum sentido de se enganar ninguém", respondeu ele. Cerveró disse que o documento que reunia todas as informações sobre o negócio foi encaminhado à diretoria da Petrobras, mas não soube afirmar se, além do resumo técnico, o Conselho de Administração da empresa teve acesso às 400 páginas detalhando a proposta. O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras afirmou que não tinha a responsabilidade, à época, de fazer esse encaminhamento.
Tido como "homem-bomba" do caso, capaz de colocar mais combustível aos apelos da oposição pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) exclusiva da Petrobras, Cerveró, em nenhum momento, comprometeu a estatal e o governo. Tanto que no fim recebeu os cumprimentos dos deputados da base aliada. "Eu vi muitas tentativas de se colocar palavras na sua boca com um único intuito: atingir a presidente Dilma", afirmou o deputado Rosinha (PT-RS).
Durante o testemunho, o ex-diretor da Área Internacional da estatal ressaltou que as polêmicas cláusulas "put option" (de saída) e "marlim" (de rentabilidade do sócio) não eram relevantes. Conforme o jornal
O Estado de S.Paulo
revelou em março, Dilma, quando era presidente do Conselho de Administração da Petrobras, admitiu não ter tido acesso, no resumo que recebeu de Cerveró, às duas cláusulas na compra da refinaria.
"Não é importante do ponto de vista negocial, do ponto de vista da valorização do negócio, nem uma cláusula nem outra", destacou. O ex-diretor da Área Internacional rechaçou que a operação tenha sido "malfadada" para as condições existentes na ocasião.
Ao falar da carreira na Petrobras, Cerveró emocionou-se e disse ter tido orgulho de participar da direção da estatal no governo Lula, quando o plano de estratégico de expansão internacional foi intensificado. "Tenho orgulho de ter dirigido a área internacional, seguindo uma orientação do presidente Lula de internacionalização da Petrobras", afirmou. O ex-diretor refutou as tentativas de rotulá-lo como indicado político. "Eu fui indicado pela minha capacidade e competência", disse. "Agora, se o senhor prefere reduzir a uma indicação política, eu prefiro não falar nada", completou, em resposta ao deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Cerveró declarou que o cenário em relação aos investimentos em Pasadena mudou de maneira "drástica", após a compra de metade da refinaria, por dois motivos principais: a descoberta do pré-sal, que modificou a orientação de investimentos da Petrobras, e a crise nos EUA em 2008, que se alastrou pelo mundo.
Cerveró afirmou que, no mesmo período a Astra Oil, a antiga sócia da Petrobras não quis ampliar os investimentos, o que levou a direção da estatal a se reunir em Copenhague, na Dinamarca, com o grupo belga. Eles aproveitaram uma viagem do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região escandinava. Ele negou que Lula tenha participado diretamente das negociações. Sem acordo, a Petrobras recorreu a uma arbitragem internacional para definir se ela teria de arcar com a compra da outra metade.
Em 2012, quando Cerveró já estava fora da área internacional da Petrobras, a estatal foi obrigada a arcar com o restante da refinaria. Ele disse que, ao todo, a compra custou à companhia US$ 1,23 bilhão..