André Shalders
Brasília – As eleições de 2014 baterão o recorde em número de jovens aptos a votar. Somente no grupo dos eleitores com idade entre 16 e 17 anos, há um salto de 1,8 milhão em 2010 para 2,3 milhões este ano, de acordo com dados consolidados em fevereiro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um aumento mais discreto também é observado na faixa etária de 18 a 24 anos. Esse contingente expressivo ajuda a explicar os altos e recorrentes percentuais de votos brancos e nulos registrados nas pesquisas de intenção de voto. Os números são maiores que os de eleições anteriores, mas nulos, brancos e abstenções estão longe de serem estranhos na política brasileira: em 2010, as três variáveis superaram o número de votos recebidos pelo segundo colocado na disputa presidencial daquele ano, José Serra (PSDB).
Em uma pesquisa anterior do mesmo instituto, publicada em novembro do ano passado, o percentual de nulos e brancos variava entre 17% e 31%, de acordo com os diferentes cenários políticos apresentados aos eleitores. Aos 18 anos, o estudante secundarista Cláudio Túlio Soares Martins votará para presidente da República pela primeira vez em outubro. Até agora, entretanto, nenhum dos quatro principais pré-candidatos ao cargo conquistou o voto do jovem. “Até agora, meu voto é nulo. E o da maioria das pessoas que convive comigo também”, apressou-se em dizer. Participante das manifestações de junho passado e também dos “rolezinhos”, Cláudio dá rosto ao grupo que embaralha os cálculos eleitorais de especialistas e lideranças.
Sem muita convicção, diz-se mais próximo da esquerda política do que da direita, e expressa uma descrença profunda nas instituições e nos políticos em geral. “Acho que isso (o voto nulo) é mais por causa do retorno que os políticos dão para as pessoas. Minha escola, por exemplo, ficou uma semana fechada por causa de um problema na instalação elétrica. E só voltou porque os pais e professores fizeram vaquinha para pagar”, exemplifica. “Enquanto isso, os políticos gastam milhões com estádio e com Copa do Mundo. Não dá pra levar fé nos caras”, arremata.
Silêncio Para o doutor em História Cultural Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, há ainda um outro elemento a desestabilizar o quadro eleitoral deste ano. “Além desses jovens, há ainda um percentual muito grande de eleitores que embarcaram no chamado ‘espiral do silêncio’. São pessoas que não manifestam opiniões políticas por medo de que elas se choquem contra a opinião majoritária na sociedade. Esse é um grupo cujo comportamento eleitoral só vai ser conhecido na hora da urna”, ressalta. Quintão também traça um perfil do eleitor jovem. “Eles estão permanentemente conectados em rede, no que eu chamo de ‘parlamento virtual’, onde são debatidos principalmente temas pontuais, de forma descontinuada. Não há ali um grande debate sobre os rumos dos país, e nem esses jovens expressam uma ideologia clara. O único traço comum é uma desconfiança e descrença generalizadas contra todas as instituições e partidos políticos”, comenta o especialista.
Preocupada com a possibilidade de um novo recorde no número de brancos, nulos e abstenções, a Justiça Eleitoral lançou uma campanha para conscientizar o público jovem sobre a participação democrática pela via eleitoral. Pensada no formato de vídeos curtos, feitos para a internet e para as redes sociais, a campanha tem como mote a hashtag #vempraurna, numa alusão a um dos gritos de guerra empregados pelos jovens nas passeatas do ano passado. Artistas como Carlinhos Brown, Daniela Mercury e Bell Marques (ex-Chiclete com Banana) participaram das gravações ao longo desta semana, em Salvador (BA). Nos vídeos, os músicos serão mostrados com camisetas estampadas com a logomarca da campanha.