Jornal Estado de Minas

De olho na campanha, vereadores de BH debatem até assuntos que não cabe a eles legislar

De olho no eleitor, vereadores candidatos a deputado dobraram este ano o número de pedidos de audiências públicas para discutir assuntos de interesse de comunidades

Jorge Macedo - especial para o EM
Juliana Cipriani


O apetite dos vereadores de Belo Horizonte para estar perto do povo no ano em que quase metade dos 41 tentará subir algum degrau na carreira política dobrou.

Em apenas dois meses – entre 10 de fevereiro e 10 de abril –, eles fizeram 49 reuniões para tratar dos mais diversos temas com a população, sendo que 19 delas foram em salões, escolas, igrejas ou praças nos bairros da capital. No mesmo período do ano passado, a Casa contabilizou 25 audiências, sendo apenas três realizadas fora da sede do Legislativo. Os encontros são divulgados com as devidas fotos e logomarcas dos vereadores autores dos requerimentos que os pediram.

O campeão das audiências é o vereador Marcelo Aro (PHS) que, sozinho, foi responsável por 14 audiências realizadas este ano. Ele foi a uma faculdade, um clube, uma igreja e uma cafeteria para discutir, nas regiões Leste e Centro-Sul, problemas de segurança pública – uma atribuição dos governos federal e estadual. A cartela de preocupações do parlamentar, que estreou na Câmara no ano passado e já é apontado como pré-candidato a deputado estadual, não para por aí. Ele pediu audiências para tratar de caminhões de comida, poluição sonora, carnaval cristão, energia fotovoltaica, construção de um edifício, internet gratuita e IPTU.

Teve espaço ainda para falar sobre a circulação de animais no perímetro urbano de Belo Horizonte e problemas na Praça do Papa.

Aro mantém, ainda, cavaletes itinerantes nas ruas, com sua foto e nome em destaque anunciando o seu gabinete parlamentar móvel. Tudo isso, assim como as fotos das reuniões, devidamente compartilhado em sua página no Facebook. “Agora estamos nos bairros Prado e Calafate. Quantas demandas! Isso demonstra a ausência do poder público na vida das pessoas”, postou o vereador.

Quem também engrossou as audiências este ano foi o vereador Gilson Reis (PCdoB), que também concorre este ano a uma vaga na Assembleia. O parlamentar aprovou requerimentos e fez encontros sobre a regularização fundiária no Bairro Montes Claros, tratou de adicional de risco para os guardas municipais, melhoria em um campo de futebol no Bairro Paulo VI e obras na Avenida Pedro II. Além disso, chancelou uma reunião sobre a BH Ativos. Todas foram feitas na Câmara.

Quem também optou pelas audiências internas, nas quais os interessados vão até a Câmara, foi Adriano Ventura (PT), que tentará uma vaga no Legislativo estadual. Ele discutiu a situação das comunidades de Vila Bandeirantes, no Luxemburgo e Non Lajedo, no Vetor Norte de BH. Outro assunto de audiência promovida a pedido do vereador foi a gestão de resíduos sólidos.

Já Iran Barbosa, vereador e pré-candidato a deputado estadual, fez duas audiências para discutir o programa Vila Viva, reivindicando um campo de futebol para a comunidade São Tomáz.

Também fez uma visita técnica a um campo de futebol no Bairro Planalto e é autor de requerimentos de reuniões sobre a situação de um terreno no Bairro Lagoa e dos postos de saúde no Glória. Outros vereadores pré-candidatos que fizeram audiências foram Marcelo Álvaro Antônio (PRP), Sérgio Fernando (PV) e Bim da Ambulância (PTN).

Entre os colegas, o aumento das visitas aos bairros e audiências na Câmara é visto, nos bastidores, como uma estratégia dos pré-candidatos para conseguir uma exposição maior. “Às vezes o tema nem é tão relevante para se fazer reunião na cidade. É claro que é um palanque”, afirma um vereador. Outro, que não quis se identificar para não causar indisposição com os colegas, confirma: “É totalmente eleitoreiro”.

Aproximação Os autores das audiências, enquanto isso, justificam as reuniões e negam interesse eleitoral. “Não fiz só agora, fui o que mais fiz no mandato. No ano passado fiz 27 audiências, sendo nove nos bairros, não tem nada a ver com ano eleitoral”, garante Marcelo Aro. Segundo o vereador, as audiências são a melhor forma de trazer a população para o debate. “Se temos esse instrumento, para que desperdiçar?”, pergunta.

Aro admite que as reuniões lhe dão divulgação, mas afirma que isso é “apenas consequência do trabalho”. O vereador afirmou ainda que ser candidato é uma opção que ele tem até junho para fazer.

Gilson Reis, que estava iniciando mais uma audiência no Bairro Paulo VI quando o Estado de Minas entrou em contato, também alegou que as audiências são uma forma de se aproximar das demandas da população. “O vereador tem as funções de legislar, representar e atuar na relação com a comunidade, então, é isso que estamos fazendo”, afirmou. Reis também alega que até junho não é candidato, e que ruim é a Câmara estar sem votar nos últimos meses. “A cada dois anos tem eleição no Brasil, se formos deixar de cumprir as funções de representação do mandato em função disto, não fazemos nada”, afirmou.

O vereador Adriano Ventura também admite que as audiências dão visibilidade, mas afirma que as suas, por tratarem do movimento social dos sem casa, trazem é dor de cabeça. “Eu tenho um foco que é a reforma urbana, todas as minhas audiências caminham na mesma linha. O que me estranha é quando parlamentares fazem diversos eventos ou mesmo audiências com temas díspares. Talvez aí esteja o indício de algo eleitoreiro”, afirmou. O vereador Iran Barbosa foi procurado, mas o seu celular estava desligado.

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