Brasília – As campanhas estão a dois meses e meio do início oficial, mas, nos bastidores da política, uma verdadeira peregrinação está em marcha para cativar os votos de um atraente eleitorado: os evangélicos. Fiéis aos ensinamentos religiosos pregados nas diferentes igrejas e assembleias espalhadas pelo Brasil, eles se transformaram em eleitores expressivos, capazes de empurrar a disputa eleitoral à Presidência da República, em 5 de outubro, para um segundo turno.
Na corrida às urnas, os principais pré-candidatos ao Palácio do Planalto já se mobilizam para demarcar território. Ontem, em Ouro Preto (MG), o senador Aécio Neves (PSDB) usou como mote o “resgate de valores” no discurso como orador oficial da tradicional cerimônia da Inconfidência. No domingo, em Aparecida (SP), Eduardo Campos (PSB) – que tem como vice a evangélica Marina Silva (PSB/Rede) – anunciou ser contrário ao aborto, postura condizente com posicionamento cristão.
Nas eleições de 2010, o tema ganhou proporções. Precisou ser desmentido que a presidente Dilma Rousseff (PT), atual pré-candidata à reeleição, era favorável ao aborto para evitar rejeição nas urnas. À época, Dilma contava com o apoio do pastor Everaldo Pereira (PSC), que este ano decidiu sair em candidatura própria ao Planalto. Ela busca agora arranjar um novo nome para “puxar votos”.
As movimentações políticas miram a representativa fatia de cerca de 20 milhões de fiéis. São eleitores expressivos, que podem pulverizar os votos em outubro. Grande parte deles apoiou a evangélica Marina Silva na eleições de 2010, quando, pelo Partido Verde, ela conquistou a terceira colocação no primeiro turno, com 19 milhões dos votos válidos (19,33% da porcentagem total). A representatividade de Marina ajudou a levar as eleições para o segundo turno.
A ex-ministra do Meio Ambiente volta agora como vice de Eduardo Campos, mas terá de enfrentar um quarto candidato forte no meio evangélico. Pesquisa divulgada recentemente pelo Ibope revela o crescimento do pastor Everaldo Pereira, que obteve entre 2% e 3% das intenções de voto, emplacando o quarto lugar no ranking de pré-candidatos. Everaldo é da Assembleia de Deus Ministério de Madureira e ocupa atualmente a vice-presidência do PSC. Formado em ciências atuariais, disputa pela primeira vez uma eleição, porém desbancou sete nanicos, a maioria conhecida pelo eleitorado devido às repetidas tentativas de presidir o Brasil. A saída do pastor da base governista, segundo interlocutores, enfureceu a presidente Dilma Rousseff.
Na visão do professor de ciências políticas Lúcio Remuzat Rennó Junior, a presidente Dilma Rousseff será a pré-candidata menos afetada com a pulverização dos votos evangélicos. “A candidatura de Everaldo não é uma ameaça para Dilma, que tem votos em outras áreas. Ele vai disputar votos é com Marina, que depende desses eleitores”, analisa o cientista político. Para Rennó, a maior participação de candidatos pulveriza votos. Até o momento, há pelo menos 11 pré-candidatos na disputa ao Palácio. Eles têm até 5 de julho para registrar oficialmente a candidatura.
Fragmentação
“Não existe um voto evangélico, são vários votos evangélicos, pois eles são muito fragmentados”, avalia o cientista político Ricardo Caldas. “A (igreja) Universal apoia a Dilma pelo PRB, a Assembleia de Deus apoia a Marina, mas não na sua totalidade (o pastor Everaldo Pereira também tem apoio da Assembleia), já Aécio busca ajuda nas igrejas independentes”, analisa.
Na opinião de Caldas, Everaldo conta com o evangélico independente, aquele que está fora das grandes instituições. “Ele tem potencial de crescimento. Já o Aécio precisa buscar apoio numa igreja, fazer algum acordo para atingir esse público porque ele não mostrou que tem votos nessa área. A área evangélica mostrou-se fundamental para a candidatura se transformar em competitiva”, diz o cientista político.
Na mira dos candidatos, está a Assembleia de Deus, que é dividida em duas partes – a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (Ministério de Madureira) e a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Juntas, elas contam com 16 milhões de seguidores, sendo que a corrente majoritária, a CGABD tem cerca de 10 milhões. Em 2010, apoiou o PSDB. Já a ala da Assembleia de Deus conhecida como Ministério Madureira, com 6 milhões de seguidores, ajudou a presidente Dilma Rousseff nas últimas eleições. Porém, parlamentares ligados aos dois campos dizem que ainda é cedo para anunciar apoio.