Jornal Estado de Minas

Polêmica sobre a causa da morte de JK pode parar na Organização dos Estados Americanos

OAB-MG e Comissão da Verdade de SP estudam recorrer às cortes internacionais após Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluir que ex-presidente não foi vítima de atentado e sim de um acidente

Maria Clara Prates

A Ordem dos Advogados do Brasil (seção Minas Gerais), a Comissão da Verdade Wladimir Herzog, de São Paulo, e outras entidades anunciaram que vão recorrer às cortes internacionais, depois de reunião com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), caso ela reafirme sua conclusão de que o ex-presidente Juscelino Kubitschek não foi vítima de atentado e sim de um acidente.

De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, a CNV ignorou mais de 100 evidências e indícios apresentados a ela por apurações desde 1996 e ainda contrariou o relatório da comissão paulista, que concluiu que JK foi assassinado no dia 22 de agosto de 1976, em um suposto acidente de carro, na Via Dutra, em Rezende (RJ). O pedido de reunião foi feito logo depois que a CNV apresentou seu relatório e ainda não tem data definida.

Segundo a OAB-MG, o primeiro passo, caso não se chegue a um denominador comum com a comissão nacional, é o pedido de análise dos dados pela Comissão Interamericana de Direitos da Organização dos Estados Americanos (OEA). “Não sabemos se houve receio ou pressão do Exército para que o relatório fosse finalizado daquela forma, ou se a grande mudança de membros pela qual passou a comissão nos últimos anos atrapalhou a análise do caso”, diz o presidente da comissão da OAB-MG, William Santos. Foi a autarquia que pediu à CNV que reabrisse a apuração sobre as circunstâncias da morte do ex-presidente, em setembro de 2012. Santos explicou que a convicção de que Juscelino foi vítima de atentado da Operação Condor é corroborada também pela Comissão da Verdade da OAB e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas.

Surpresa

A desconfiança com a conclusão, de acordo com Santos, surgiu, principalmente, em razão da recusa dos integrantes da CNV em ouvir pessoas que ajudaram a colher as evidências de que JK foi assassinado. “Ninguém foi ouvido”, reafirmou. Entre os que esperavam prestar depoimento está o presidente da Casa Juscelino Kubitschek, Serafim Jardim, ex-secretário particular de JK, que nos últimos 18 anos colhe evidências do interesse de integrantes do regime militar brasileiro em tirar JK do cenário político do país.
“O acidente não foi a única tentativa. Houve uma ocasião em que o avião em que o presidente viajava teve uma pane seca e, apesar da gravidade do problema, ele não recebeu autorização para pousar em Brasília. Foi obrigado a se deslocar até Luizânia (GO)”, conta.

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